segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Belo Monte no ENEM: o errado vira certo

Escrito por Rodolfo Salm


Leciono na faculdade de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará, em Altamira, no Xingu, onde se pretende construir a hidrelétrica de Belo Monte. Apesar de os meus futuros alunos estarem sendo selecionados pelo Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), eu vinha acompanhando apenas por alto os vários problemas das provas.

Seguiria desta forma se não me contassem, por acaso, de uma menina daqui que estava "inconformada" com uma questão da prova, sobre Belo Monte, que ela estava convicta de que havia acertado apesar do gabarito oficial apontar o contrário. E ainda teve que ouvir chistes dos amigos por não ter acertado a única pergunta que se referia a algo diretamente ligado à sua região.

Trata-se da questão 15 da prova de "Ciências Humanas e suas Tecnologias", que tem a seguinte introdução (os grifos são meus):

"A usina hidrelétrica de Belo Monte será construída no rio Xingu, no Pará (ainda espero que não). A usina será a terceira maior do mundo e a maior totalmente brasileira, com capacidade de 11,2 mil megawatts (informação equivocada: esse seria o valor do pico das chuvas, a produção média anual seria de menos da metade disso). Os índios do Xingu tomam a paisagem com seus cocares, arcos e flechas. Em Altamira, no Pará, agricultores fecharam estradas de uma região que será inundada pelas águas da usina".

Então, pergunta-se: "Os impasses, resistências e desafios associados à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte estão associados..."

Ao potencial hidrelétrico dos rios do norte e nordeste quando comparados às bacias hidrográficas das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país.

a. À necessidade de equilibrar e compatibilizar o investimento no crescimento do país com os esforços para a conservação ambiental.

b. À grande quantidade de recursos disponíveis para as obras e à escassez dos recursos direcionados para o pagamento pela desapropriação das terras.

c. Ao direito histórico dos indígenas à posse dessas terras e à ausência de reconhecimento desse direito por parte das empreiteiras.

d. Ao aproveitamento da mão-de-obra especializada disponível na região Norte e o interesse das construtoras na vinda de profissionais do Sudeste do país.

É impressionante a constatação de que todas as alternativas estão certas! Com a possível exceção daquela que é considerada correta pelos examinadores...

A estudante secundarista escolhera a opção "d" (ausência de reconhecimento dos direitos históricos indígenas pelas empreiteiras) e não se conformava de ter "errado", pois tinha visto os protestos dos índios na cidade e seu enfrentamento com os representantes das empreiteiras. Teoricamente, as empreiteiras só entram na jogada depois que o governo e o IBAMA liberam e dão as autorizações necessárias.



Poderia se dizer que houve desrespeito, sem dúvida, ao direito dos indígenas, mas que esse desrespeito veio de quem tomou a iniciativa de construir e a quem dá a autorização ambiental para construir. Mas sabemos que este é um jogo de cartas marcadas em que as empreiteiras é que ditam as regras, através, por exemplo, de fartas doações de campanha. O que explica, por exemplo, os recursos muito superiores da campanha presidencial do PT, se comparados com os da oposição.

A opção "a" (do potencial hidrelétrico das várias regiões) tem uma pegadinha: o "grande potencial inexplorado" do Brasil está concentrado na região Norte e não no Nordeste. Ainda assim, se colocarmos as duas regiões juntas em um lado da balança contra o resto do país do outro, ela não deixa de estar certa. Isso explica parte da resistência à barragem, sim, pois alguns dos opositores à obra não se conformam com este papel de exportador de energia barata para a nossa região, a favor do Sul e Sudeste desenvolvidos.

A precariedade do processo de desapropriação de terras e das compensações ambientais que não estão sendo cumpridas confirma a veracidade da opção "c". Sem um estudo mais transparente e detalhado não é possível dizer com certeza se há realmente "escassez de recursos direcionados para o pagamento pela desapropriação das terras". Mas porque este trabalho não começou há tempos, de forma séria e sistemática, bem antes da data que se pretende para o início das obras?

Finalmente, o "aproveitamento da mão-de-obra especializada disponível na região Norte" também é problemático e não há dúvidas de que há grandes interesses por parte das empreiteiras em vários negócios associados com a vinda de profissionais do Sudeste do país. Isso também está "associado aos impasses, resistências e desafios associados à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte". Afinal, parte dos que se dizem contra a obra, o são, pois sabem que, com a formação que têm, não teriam lugar nessa empreitada.

A opção oficialmente certa é a cínica: os impasses, resistências e desafios associados à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte estariam relacionados "à necessidade de equilibrar e compatibilizar o investimento no crescimento do país com os esforços para a conservação ambiental". Seria possível "equilibrar" sem "compatibilizar"? E o contrário? O mau uso do português é típico da estratégia de enrolação. E, afinal, o que é "compatibilizar o crescimento com a conservação"? Pode ser tudo e coisa nenhuma.

Os estudantes que marcaram como corretas as opções mais claras e diretas sobre o potencial hidrelétrico dos rios, o desequilíbrio no destino dos recursos disponíveis com prejuízo para as "compensações", os direitos indígenas que estão sendo violados e a mão-de-obra local que não está preparada para ocupar posições importantes na construção, não pontuaram na questão 15 desta prova do ENEM. E ali foram selecionados aqueles que desde cedo carregam uma certa predileção pela linguagem ambígua sub-reptícia do discurso do "desenvolvimento sustentável", rica em neologismos, mas pobre em significados concretos. Perdem as nossas universidades.

Não sei. Pode até ser que consigam nos enfiar essa hidrelétrica garganta abaixo, mas não há como manter a mentira para sempre. Feita em nome dos interesses das grandes empreiteiras, Belo Monte seria um desastre colossal para o Xingu, a floresta Amazônica, os índios e povo do Norte e do Brasil em geral. A não ser que ainda consigamos nos contrapor à força avassaladora de tais interesses, essa tragédia será para as gerações futuras a marca maior dos governos Lula e Dilma.

De forma geral, a marca maior desta passagem do PT pela presidência da República será o descaso com o meio ambiente. Mas Belo Monte não será apenas um exemplo entre muitos outros. Mais que a maior obra do PAC, seria aquela com os impactos mais amplos e profundos, com conseqüências continentais e repercussão mundial. Mais que as hidrelétricas do Madeira, dada a vulnerabilidade das florestas da Amazônia Oriental, e a importância do Xingu como último grande rio do planeta em ótimo estado de conservação e ocupado majoritariamente por povos indígenas. Mais do que a transposição do rio São Francisco, que não causará mudanças geopolíticas ecologicamente tão relevantes como a imensa migração humana que se espera para esta região da Amazônia, que geraria um imenso incremento nos desmatamentos.

Tentando acima de tudo reinventar a História, considerando o certo errado e o errado certo, a incompetência do vazamento de provas e os erros de impressão, como a numeração invertida das questões no quadro de respostas, são inevitáveis conseqüências.

Rodolfo Salm, PhD em Ciências Ambientais pela Universidade de East Anglia, é professor da UFPA (Universidade Federal do Pará) e faz parte do Painel de Especialistas para a Avaliação Independente dos Estudos de Impacto Ambiental de Belo Monte.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

ROMEU & JULIETA. Uma nova história


ROMEU & JULIETA. UMA NOVA HISTÓRIA



Sábado acontece mais uma oficina do Ciclo de Oficinas Culturais Juventude e Cidadania, projeto incentivado pela Alcoa Poçs de Caldas através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, com apoio ainda do Instituto Cultural Companhia Bella de Artes.


A oficina contará com o lançamento do filme do diretor Jedson dos Reis ROMEU E JULIETA. Uma nova história.

O horário é: 16h
Data: 11 de dezembro (sábado)
O local é: Cia. Bella de Artes (Ed. Manhathan, Rua Prefeito Chagas, 305, Andar PL)

ENTRADA FRANCA


Sinopse:

ROMEU & JULIETA. Uma nova história foi lançado em 2010 pela Cia. de Cinema Acópoles. O casal mais famoso de todos os tempos é separado em pleno século XXI pela problemática das drogas.Repleto de poesia, amor e tragédia esse longa-metragem lança as bandas Yellow Sheep, com a música Lutar por alguém que já se foi e Alternado, com a música Rua Sem Saída.

O elenco é formado por crianças, jovens e adultos que voluntariamente trabalharam com muito afinco e carinho nerste projeto lírico, apaixonado e contemporâneo de reflexão sobre as drogas em nossa sociedade.

Natural de Pouso Alegre, Sul de Minas, Jedson dos Reis apresenta seu primeiro longa metragem que promete emocionar e levar o público a uma profunda reflexão sobre o amor, os valores e o nosso mundo.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A farsa da pacificação do Rio de Janeiro

Entrevista especial com José Cláudio Alves

“O que está por trás desses conflitos urbanos é uma reconfiguração da geopolítica do crime na cidade”. Assim descreve o sociólogo José Cláudio Souza Alves a motivação principal dos conflitos que estão se dando entre traficantes e a polícia do Rio de Janeiro. Na entrevista a seguir, concedida à IHU On-Line por telefone, o professor analisa a composição geográfica do conflito e reflete as estratégias de reorganização das facções e milícias durante esses embates. “A mídia nos faz crer – sobretudo a Rede Globo está empenhada nisso – que há uma luta entre o bem e o mal. O bem é a segurança pública e a polícia do Rio de Janeiro e o mal são os traficantes que estão sendo combatidos. Na verdade, isso é uma falácia. Não existe essa realidade. O que existe é essa reorganização da estrutura do crime”, explica.

José Cláudio Souza Alves é graduado em Estudos Sociais pela Fundação Educacional de Brusque. É mestre em sociologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e doutor, na mesma área, pela Universidade de São Paulo. Atualmente, é professor na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e membro do Iser Assessoria..

Confira a entrevista.

IHU On-Line – O que está por trás desses conflitos atuais no Rio de Janeiro?

José Cláudio Alves – O que está por trás desses conflitos urbanos é uma reconfiguração da geopolítica do crime na cidade. Isso já vem se dando há algum tempo e culminou na situação que estamos vivendo atualmente. Há elementos presentes nesse conflito que vêm de períodos maiores da história do Rio de Janeiro, um deles é o surgimento das milícias que nada mais são do que estruturas de violência construídas a partir do aparato policial de forma mais explícita. Elas, portanto, controlarão várias favelas do RJ e serão inseridas no processo de expulsão do Comando Vermelho e pelo fortalecimento de uma outra facção chamada Terceiro Comando. Há uma terceira facção chamada Ada, que é um desdobramento do Comando Vermelho e que opera nos confrontos que vão ocorrer junto a essa primeira facção em determinadas áreas. Na verdade, o Comando Vermelho foi se transformando num segmento que está perdendo sua hegemonia sobre a organização do crime no Rio de Janeiro. Quem está avançando, ao longo do tempo, são as milícias em articulação com o Terceiro Comando.

Um elemento determinante nessa reconfiguração foi o surgimento das UPPs a partir de uma política de ocupação de determinadas favelas, sobretudo da zona sul do RJ. Seus interesses estão voltados para a questão do capital do turismo, industrial, comercial, terceiro setor, ou seja, o capital que estará envolvido nas Olimpíadas. Então, a expulsão das favelas cariocas feita pelas UPPs ocorre em cima do segmento do Comando Vermelho. Por isso, o que está acontecendo agora é um rearranjo dessa estrutura. O Comando Vermelho está indo agora para um confronto que aterroriza a população para que um novo acordo se estabeleça em relação a áreas e espaços para que esse segmento se estabeleça e sobreviva.

IHU On-Line – Mas, então, o que está em jogo?

José Cláudio Alves – Não está em jogo a destruição da estrutura do crime, ela está se rearranjando apenas. Nesse rearranjo quem vai se sobressair são, sobretudo, as milícias, o Terceiro Comando – que vem crescendo junto e operando com as milícias – e a política de segurança do Estado calcada nas UPPs – que não alteraram a relação com o tráfico de drogas. A mídia nos faz crer – sobretudo a Rede Globo está empenhada nisso – que há uma luta entre o bem e o mal. O bem é a segurança pública e a polícia do Rio de Janeiro e o mal são os traficantes que estão sendo combatidos. Na verdade, isso é uma falácia. Não existe essa realidade. O que existe é essa reorganização da estrutura do crime.

A realidade do RJ exige hoje uma análise muito profunda e complexa e não essa espetacularização midiática, que tem um objetivo: escorraçar um segmento do crime organizado e favorecer a constelação de outra composição hegemônica do crime no RJ.

IHU On-Line – Por que esse confronto nasceu na Vila Cruzeiro?

José Cláudio Alves – Porque a partir dessa reconfiguração que foi sendo feita das milícias e das UPPs (Unidades de Policiamento Pacificadoras), o Comando Vermelho começou a estabelecer uma base operacional muito forte no Complexo do Alemão. Este lugar envolve um conjunto de favelas com um conjunto de entradas e saídas. O centro desse complexo é constituído de áreas abertas que são remanescentes de matas. Essa estruturação geográfica e paisagística daquela região favoreceu muito a presença do Comando Vermelho lá. Mas se observarmos todas as operações, veremos que elas estão seguindo o eixo da Central do Brasil e Leopoldina, que são dois eixos ferroviários que conectam o centro do RJ ao subúrbio e à Baixada Fluminense. Todos os confrontos estão ocorrendo nesse eixo.

IHU On-Line – Por que nesse eixo, em específico?

José Cláudio Alves – Porque, ao longo desse eixo, há várias comunidades que ainda pertencem ao Comando Vermelho. Não tão fortemente estruturadas, não de forma organizada como no Complexo do Alemão, mas são comunidades que permanecem como núcleos que são facilmente articulados. Por exemplo: a favela de Vigário Geral foi tomada pelo Terceiro Comando porque hoje as milícias controlam essa favela e a de Parada de Lucas a alugam para o Terceiro Comando. Mas ao lado, cerca de dois quilômetros de distância dessa favela, existe uma menor que é a favela de Furquim Mendes, controlada pelo Comando Vermelho. Logo, as operações que estão ocorrendo agora em Vigário Geral, Jardim América e em Duque de Caxias estão tendo um núcleo de operação a partir de Furquim Mendes.

Então, o combate no Complexo do Alemão é meramente simbólico nessa disputa. Por isso, invadir o Complexo do Alemão não vai acabar com o tráfico no Rio de Janeiro. Há vários pontos onde as milícias e as diferentes facções estão instaladas. O mais drástico é que quem vai morrer nesse confronto é a população civil e inocente, que não tem acesso à comunicação, saúde, luz... Há todo um drama social que essa população vai ser submetida de forma injusta, arbitrária, ignorante, estúpida, meramente voltada aos interesses midiáticos, de venda de imagens e para os interesses de um projeto de política de segurança pública que ressalta a execução sumária. No Rio de Janeiro a execução sumária foi elevada à categoria de política pública pelo atual governo.

IHU On-Line – Em que contexto geográfico está localizado a Vila Cruzeiro?

José Cláudio Alves – A Vila Cruzeiro está localizada no que nós chamamos de zona da Leopoldina. Ela está ao pé do Complexo do Alemão, só que na face que esse complexo tem voltada para a Penha. A Penha é um bairro da Leopoldina. Essa região da Leopoldina se constituiu no eixo da estrada de ferro Leopoldina, que começa na Central do Brasil, passa por São Cristóvão e dali vai seguir por Bonsucesso, Penha, Olaria, Vigário Geral – que é onde eu moro e que é a última parada da Leopoldina e aí se entra na Baixada Fluminense com a estação de Duque de Caxias.

Esse “corredor” foi um dos maiores eixos de favelização da cidade do Rio de Janeiro. A favelização que, inicialmente, ocorre na zona sul não encontra a possibilidade de adensamento maior. Ela fica restrita a algumas favelas. Tirando a da Rocinha, que é a maior do Rio de Janeiro, os outros complexos todos – como o da Maré e do Alemão – estão localizados no eixo da zona da Leopoldina até Avenida Brasil. A Leopoldina é de 1887-1888, já a Avenida Brasil é de 1946. É nesse prazo de tempo que esse eixo se tornou o mais favelizado do RJ. Logo, a Vila Cruzeiro é apenas uma das faces do Complexo do Alemão e é a de maior facilidade para a entrada da polícia, onde se pode fazer operações de grande porte como foi feita na quinta-feira, dia 25-11. No entanto, isso não expressa o Complexo do Alemão em si.

A Maré fica do outro lado da Avenida Brasil. Ela tem quase 200 mil habitantes. Uma parte dela pertence ao Comando Vermelho, a outra parte é do Terceiro Comando. Por que não se faz nenhuma operação num complexo tão grande ou maior do que o do Alemão? Ninguém cita isso! Por que não se entra nas favelas onde o Terceiro Comando está operando? Porque o Terceiro Comando já tem acordo com as milícias e com a política de segurança. Por isso, as atuações se dão em cima de uma das faces mais frágeis do Complexo do Alemão, como se isso fosse alguma coisa significativa.

IHU On-Line – Estando a Vila Cruzeiro numa das faces do Complexo, por que o Alemão se tornou o reduto de fuga dos traficantes?

José Cláudio Alves – A estrutura dele é muito mais complexa para que se faça qualquer tipo de operação lá. Há facilidade de fuga, porque há várias faces de saída. Não é uma favela que a polícia consegue cercar. Mesmo juntando a polícia do RJ inteiro e o Exército Nacional jamais se conseguiria cercar o complexo. O Alemão é muito maior do que se possa imaginar. Então, é uma área que permite a reorganização e reestruturação do Comando Vermelho. Mas existem várias outras bases do Comando Vermelho pulverizadas em toda a área da Leopoldina e Central do Brasil que estão também operando.

Mesmo que se consiga ocupar todo o Complexo do Alemão, o Comando Vermelho ainda tem possibilidades de reestruturação em outras pequenas áreas. Ninguém fala, por exemplo, da Baixada Fluminense, mas Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Mesquita, Belford Roxo são áreas que hoje estão sendo reconfiguradas em termos de tráfico de drogas a partir da ida do Comando Vermelho para lá.

Por exemplo, um bairro de Duque de Caxias chamado Olavo Bilac é próximo de uma comunidade chamada Mangueirinha, que é um morro. Essa comunidade já é controlada pelo Comando Vermelho que está adensando a elevação da Mangueirinha e Olavo Bilac já está sentindo os efeitos diretos dessa reocupação. Mas ninguém está falando nada sobre isso.

A realidade do Rio de Janeiro é muito mais complexa do que se possa imaginar. O Comando Vermelho, assim como outras facções e milícias, estabelece relação direta com o aparato de segurança pública do Rio de Janeiro. Em todas essas áreas há tráfico de armas feito pela polícia, em todas essas áreas o tráfico de drogas permanece em função de acordos com o aparato policial.

IHU On-Line – Podemos comparar esses traficantes que estão coordenando os conflitos no RJ com o PCC, de São Paulo?

José Cláudio Alves – Só podemos analisar a história do Rio de Janeiro, fazendo um retrospecto da história e da geografia. O PCC, em São Paulo, tem uma trajetória muito diferente das facções do Rio de Janeiro, tanto que a estrutura do PCC se dá dentro dos presídios. Quando a mídia noticia que os traficantes no Rio de Janeiro presos estão operando os conflitos, leia-se, por trás disso, que a estrutura penitenciária do Estado se transformou na estrutura organizacional do crime. Não estou dizendo que o Estado foi corrompido. Estou dizendo que o próprio estado em si é o crime. O mercado e o Estado são os grandes problemas da sociedade brasileira. O mercado de drogas, articulado com o mercado de segurança pública, com o mercado de tráfico de drogas, de roubo, com o próprio sistema financeiro brasileiro, é quem tem interesse em perpetuar tudo isso.

A articulação entre economia formal, economia criminosa e aparato estatal se dá em São Paulo de uma forma diferente em relação ao Rio de Janeiro. Expulsar o Comando Vermelho dessas áreas interessa à manutenção econômica do capital. O que há de semelhança são as operações de terror, operações de confronto aberto dentro da cidade para reestruturar o crime e reorganizá-lo em patamares mais favoráveis ao segmento que está ganhando ou perdendo.

IHU On-Line – Como o senhor avalia essa política de instalação das UPPs – Unidades de Policiamento Pacificadoras nas favelas do Rio de Janeiro?

José Cláudio Alves – É uma política midiática de visibilidade de segurança no Rio de Janeiro e Brasil. A presidente eleita quase transformou as UPPs na política de segurança pública do país e quer reproduzir as UPPs em todo o Brasil. A UPP é uma grande farsa. Nas favelas ocupadas pelas UPSs podem ser encontrados ex-traficantes que continuam operando, mas com menos intensidade. A desigualdade social permanece, assim como o não acesso à saúde, educação, propriedade da terra, transporte. A polícia está lá para garantir o não tiroteio, mas isso não garante a não existência de crimes. A meu ver, até agora, as UPPs são apenas formas de fachada de uma política de segurança e econômica de grupos de capitais dominantes na cidade para estabelecer um novo projeto e reconfiguração dessa estrutura.

IHU On-Line – A tensão no Rio de Janeiro, neste momento, é diferente de outros momentos de conflito entre polícia e traficantes?

José Cláudio Alves – Sim, porque a dimensão é mais ampla, mais aberta. Dizer que eles estão operando de forma desarticulada, desesperada, desorganizada é uma mentira. A estrutura que o Comando Vermelho organiza vem sendo elaborada há mais de cinco anos e ela tem sido, agora, colocada em prática de uma forma muito mais intensa do que jamais foi visto.

A grande questão é saber o que se opera no fundo imaginário e simbólico que está sendo construído de quem são, de fato, os inimigos da sociedade fluminense e brasileira. Essa questão vai ter efeitos muito mais venosos para a sociedade empobrecida e favelizada. É isso que está em jogo agora.


quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Memórias Negras


Memórias negras no Brasil e em Poços de Caldas




Roberto Teresiano
Jornalista e pesquisador



Local: Cia. Bella de Artes - Rua Prefeito Chagas, 305 – Andar PL, Centro

Sábado, 27 de novembro, às 16h. Entrada Franca.



Uma leitura sobre o negro na sociedade estratificada e de classes a partir do olhar de um pesquisador autodidata negro e jornalista conhecedor da memória de Poços de Caldas, a oficina deste sábado pretende levantar uma discussão sobre as condições sociais da população negra em nosso país, sua formação cultural e a histórica desvalorização dessa riquíssima cultura.

Roberto Teresiano, respeitado jornalista e pesquisador da história de Poços de Caldas abordará no formato dialógico com professores, educandos, artistas e agentes culturais o papel do negro na sociedade de classes, sua cultura e aspectos interessantes da constituição histórica de Poços de Caldas, em especial da população negra que aqui fez e faz sua vida.

Com incentivo da Alcoa Poços de Caldas, através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, o projeto Ciclo de Oficinas Culturais Juventude e Cidadania apresenta sua 10ª oficina, que contará com exposição de fotos de escravos do final do século XIX. Segundo a Assessora Pedagógica do projeto, Greice Keli Alves, o tema escolhido tem íntima relação com a Semana da Consciência Negra e pretende ainda colaborar com uma leitura crítica dos agentes envolvidos sobre a cultura negra, cultura de “resistência”.

Maiores informações podem ser obtidos pelo telefone: 35-99761513, com Diney Lenon, Coordenador do Projeto.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O tempo

por Érika N. Picoli


O tempo é um momento,

do agora, do antes e do depois.

É como o Amor,

vivemos a toda hora,

sentimos antes e agora.

É como um trem,

corre, corre e corre...

Nunca vemos um parado,

é como as horas,

passam e nem vemos.

O tempo é um movimento

que se mexe,

nunca vemos um tempo parado.

O tempo é um momento,

um antes, um depois, um agora,

um amor, um depois.

Como um trem,

como as horas,

como um agora.

O tempo é um tempo.

O tempo é a vida.


A autora é educanda do 7º Ano do Ensino Fundamental da
Escola Estadual Professor Arlindo Pereira
 

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Odeio os indiferentes, por Antônio Gramsci

Odeio os indiferentes. Acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.

A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.

A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar. A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens não se preocupa com isso. Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então zangam-se, queriam eximir-se às conseqüências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis. Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.

A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum gênero.

Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.

Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.



domingo, 21 de novembro de 2010

Proibido Parar! O elo entre a repressão e a arte

Mutações do Visível (Dica de leitura)


O compromisso essencial deste livro é analisar mutações de uma época de comunicação generalizada e em rede, na qual a vida social, as mentalidades, os valores e os processos culturais parecem definitivamente vinculados a telas, monitores e ambientes virtuais, sob o imperativo da cultura tecnológica e da midiatização.

Para enfrentar este quadro desafiador, Dênis de Moraes reúne um elenco de intelectuais que se destacam internacionalmente no exame de perspectivas, contradições e dilemas na órbita da multiplicação de canais, redes, sistemas, plataformas, circuitos info-eletrônicos, suportes e dispositivos.

O livro oferece um conjunto de reflexões sobre temas que aguardavam por análises aprofundadas, tais como: modelos de mediação na interseção da comunicação de massa com a comunicação em rede; os condicionantes da geração de conteúdos no capitalismo tecnológico; a incessante circulação de informações, saberes e entretenimentos em condições desiguais de acesso, assimilação e resposta; formas de hegemonia e contra-hegemonia que se defrontam na arena simbólica; concentração monopólica nos setores info-comunicacionais e o requisito da regulação pública; estratégias midiatizadas de celebração e consagração no campo jornalístico; ideologia e representação simbólica no ciberespaço; realinhamentos culturais e educativos nas redes planetárias; e fronteiras de sociabilidade e criatividade no entorno digital.

No prefácio, o cientista político Marco Aurélio Nogueira assim avalia a obra: "Mutações do visível traduz com competência os desafios que o mundo atual está experimentando no estratégico e sempre mais central setor da comunicação e da informação. Há nele uma combinação bem-sucedida de enfoques distintos que buscam convergir para uma mesma zona de embate crítico. São reflexões que privilegiam o que existe de protagonismo da mídia sem descuidar das disputas de sentido e das lutas por hegemonia que atravessam o campo da comunicação. Essa é sua força, e nisso repousa sua enorme utilidade".

Editora: Pão e Rosas
Ano: 2010

DÊNIS DE MORAES nasceu no Rio de Janeiro em 1954. É doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós-doutor pelo Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO), sediado em Buenos Aires, Argentina.

sábado, 20 de novembro de 2010

Brasil: Um verdade Inconveniente (2000)

Enquanto todo o mundo conhece a história da escravidão nos EUA, poucas pessoas percebem que o Brasil foi, na verdade, o maior participante do comércio de escravos. Quarenta por cento de todos os escravos que sobreviviam à travessia do Atlântico eram destinados ao Brasil, quando apenas 4% iam para os EUA.
Chegou uma época em que a metade da população brasileira era de escravos. O Brasil foi o último país a abolir a escravidão, em 1888.
O documentário tem depoimentos dos historiadores João José Reis, Cya Teixeira, Marilene Rosa da Silva; do antropologista Peter Fry e outras pessoas que contam os efeitos de séculos de escravidão no Brasil de hoje. Este é um importante documentário sobre a história dos negros, história africana e estudos latinoamericanos.
(Filmakers Library)
Para baixar esse filme, vá no link acima vídeo.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O Terrorismo de Estado na Colômbia




Por Azalea Robles

A história da Colômbia está definida pela pilhagem dos seus recursos: pelo Terrorismo de Estado para manter um status quo de injustiça social. O Estado colombiano facilita a pilhagem dos recursos naturais e humanos da Colômbia: é o que garante os interesses das multinacionais e da oligarquia.

Portanto, todo aquele que reivindica por justiça social é assassinado, e vilas inteiras são arrasadas com a finalidade de esvaziar as terras de grande interesse econômico: eliminação sistemática das demandas sociais, políticas, econômicas, ecológicas...

Uma situação dramática que os grandes meios de comunicação de massas sistematicamente ocultam ou falsificam. Agora essa falsa mídia quer fazer crer que o governo de Santos é mais moderado, mas nada está mais longe da realidade.

Apenas dois dados: nos primeiros 75 dias do seu mandato, foram assassinados 22 defensores de direitos humanos (1), e foram violentadas e assassinadas 3 crianças pelo exército, no que faz parte da prática do terrorismo de Estado (2).

O extermínio da oposição, a belicosidade e o empobrecimento continuam a se intensificar com Santos, como pode se evidenciar pelos bombardeios maciços, os desaparecimentos forçados, os aprisionamentos políticos e as Leis lesivas que promovem mais privatizações e deslocamentos massivos de populações, como é o caso de "Lei de Terras", apresentada como a panacéia pela mídia, embora seja "uma lei sem consulta que coloca vidas em risco e legaliza o despojo" (3).

Os números são importantes porque permitem dar uma dimensão do que é um dos piores genocídios da história contemporânea da humanidade, um genocídio silencioso.

A seguir mostramos o quadro do que é, em números, o Terrorismo de Estado na Colômbia.

O terrorismo de Estado na Colômbia é:

*Somente nos últimos três anos, o desaparecimento de mais de 38.255 pessoas pelas mãos do Terrorismo de Estado na Colômbia. Estima-se, atualmente, em 250.000 o número de pessoas desaparecidas (seqüestradas ou torturadas) sob a lógica de “dissuadir as reivindicações pelo terror” (O Estado busca que o terror perdure quando um corpo desaparece, pois prolonga a angustia nos sobreviventes) (1)

* A eliminação física de todo um partido político, a União Patriótica (UP): mais de 5.000 pessoas da UP foram assassinadas pelo Estado (2).

* Mais de 2.704 sindicalistas assassinados: 60% do total de sindicalistas assassinados em todo o mundo são mortos na Colômbia pelas ferramentas do terrorismo de Estado (3).

*Na Colômbia, a situação de injustiça social é esmagadora e, a cada dia, se alarga a brecha entre ricos e pobres, sendo a repressão estatal busca calar o descontentamento natural diante desta dramática situação.

Da população da Colômbia 68% vive na pobreza e na indigência. A concentração da riqueza é escandalosa: a Colômbia é o 11º país maior desigualdade social do mundo (colocação n°. 11 do coeficiente GINI de desigualdade), e é o país mais desigual das Américas. Dizemos que existem, segundo os números mais conservadores, 8 milhões de indigentes e 20 milhões de pobres (4).

Anualmente, morrem mais de 20 mil crianças menores de 5 anos de desnutrição aguda (dados da UNICEF). De cada 100 mulheres grávidas deslocadas, 80 sofrem de desnutrição crônica (5). Simultaneamente, e correlativo a esta miséria, um único banqueiro, Sarmiento Angulo, controla 42% do crédito nacional e declarou lucros de 1,250 bilhões de dólares no último bimestre de 2009. (6)

* Terrorismo de Estado é o deslocamento de populações em beneficio do grande capital: mais de 4,5 milhão de pessoas foram deslocadas de suas terras pelos massacres dos militares e paramilitares dentro da Estratégia Estatal de "terra arrasada" para esvaziar a população das áreas rurais e assim oferecer as terras de alto interesse econômico às multinacionais sem que haja reivindicações nem moradores...(7).

* 10 milhões de hectares foram roubados assim das vítimas e estas, deslocadas. Essas mesmas terras foram oferecidas para as multinacionais, ao grande latifúndio e a novos chefes paramilitares. O escândalo do "agroingresso seguro” serviu para consolidar este roubo (8).

* Terrorismo de Estado é a maior vala comum da América Latina, uma descoberta dantesca que, entretanto, ainda não levou ao repúdio internacional que merece o regime colombiano: mais de 2.000 ossadas de desaparecidos pela força Omega do “Plano Colômbia” (9).

* Terrorismo de Estado é a utilização de uma Ferramenta Paramilitar para injetar o Terror na população, a fim de silenciá-la, docilizá-la e deslocá-la. Uma ferramenta de horror que prática violações em massa, esquartejamentos com motosserra, empalações e outras formas de terror de dar arrepios.

Um relatório do Escritório de Justiça e Paz, de fevereiro de 2010, indicava que os paramilitares asseguram ter cometido 30.470 assassinatos em 15 anos. E o drama se vislumbra ainda mais dantesco. Vários paramilitares têm testemunhado sobre o caráter estratégico da Estrutura Paramilitar para o próprio Estado colombiano, e deram dezenas de nomes de generais, empresários, multinacionais, políticos, todos promotores do paramilitarismo. E ainda não veio a merecida condenação internacional ao Estado colombiano que continua impune com tais práticas genocidas (10).

* Milhares de valas comuns contendo milhares de cadáveres de colombianos massacrados pelo paramilitarismo de Estado colombiano: os paramilitares deram algumas coordenadas das valas para assim ser amparar na “Lei de Justiça e Paz", que foi criada sob a direção de um dos maiores promotores do paramilitarismo: Álvaro Uribe Vélez. É uma lei que lhes proporciona impunidade se mostrarem “arrependimento”.

Em abril de 2007, quando terminava o primeiro ano de busca de valas comuns, a promotoria recebeu 3.710 denuncias de áreas onde podiam ser localizadas, mas a maioria não pode ser explorada, segundo o Estado, por "falta de recursos...” As famílias de milhares vítimas esperam pelos testes de DNA nas ossadas encontradas, mas o Estado justifica sua inoperância alegando "falta de recursos" e “estouro do orçamento”, mas para patrocinar militares e paramilitares os recursos aparecem na hora.

* Terrorismo de Estado são os fornos crematórios e as criações de jacarés da Ferramenta Paramilitar do Estado e das multinacionais, onde os paramilitares fizeram desaparecer a milhares de pessoas... (11).

* Milhares de assassinatos, incluindo o escândalo dos "falsos positivos": os militares sequestram jovens, são disfarçados como guerrilheiros e assassinados para assim apresentá-los como “guerrilheiros mortos em combate".

Os meios de comunicação de massa se encarregam de difundir a mentira, visto que na Colômbia, os meios de comunicação de massa dão como verdade o que suas fontes militares dizem. Isto é feito pelos militares para "mostrar os resultados" da sua guerra contra insurgente e também para assassinar os civis que incomodam.

A cobertura mediática dos mortos que são tidos como guerrilheiros é absolutamente macabra na Colômbia: mostram-se os corpos alinhados, seminus, para, dessa maneira, moldar a opinião pública na desumanização dos guerrilheiros. A diretiva N°. 029, do Ministério da Defesa, fomenta os “falsos positivos” (12).

* Mais de 7.500 presos políticos, muitos deles vítimas de armações jurídicas, uma prática comum contra ativistas dos movimentos sociais (13).

* Centenas de auto-atentados, outro tipo de "falsos positivos" por parte das forças policiais e militares que já colocaram bombas na própria cidade de Bogotá para assim poder criar a base para armações mediáticas de desprestigio contra as guerrilhas. Estes auto-atentados foram preconizados pelo DAS, o Departamento Administrativo de Segurança, como consta de documentos (14).

* As violações dos direitos humanos têm sido aprofundadas no que se evidencia como um país ocupado: na Colômbia existe uma numerosa presença de militares dos EUA e mercenários israelenses; foram implantadas sete bases militares dos EUA, sendo que o Estado colombiano concedeu aos ‘marines’ total imunidade para todos os crimes que cometerem na Colômbia. Já existem vários casos de violentadas por ‘marines’, que estão em total impunidade, pois ‘marines’ têm "carta branca" para violentar, torturar e assassinar na Colômbia (15).

A violência é a ofensiva do grande capital, na sua ânsia de não perder a Colômbia como valioso "armazém de recursos", por isso implantaram e mantiveram essa aberração que hoje é o Estado colombiano.

Se não fosse pela “ajuda” descomunal dos EUA e da UE esse Estado criminoso teria deixado de existir há muitos anos, não teria endividado o povo colombiano para manter os gastos militares e, não contaria com a sua Estratégia Paramilitar de Terrorismo de Estado.

Sem seus apoios militares e mediáticos, o Estado colombiano não poderia ter cometido tanta barbárie; e o povo colombiano teria conseguido a sua verdadeira independência, sua emancipação de tanta inveja, morte e dor.

Fonte: rebelion.org

domingo, 7 de novembro de 2010

Educação e Cidadania



A educação escolar é um direito de todos assegurado por leis, tratados e convenções internacionais, A exemplo, da Declaração Mundial de Educação para Todos (1990), segundo a qual “a educação é direito fundamental de todos, mulheres e homens de todas as idades”. A forma como a educação se apresenta hoje resulta de várias décadas de conquistas, observando-se grandes transformações nesse percurso, seguindo a cultura, a história e a realidade de cada época.
A Constituição Federal de 1988 foi um marco desse processo histórico de construção das garantias do direito à educação. Considerando a realidade brasileira, a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, documentos que estabelecem os deveres do Estado e da família acerca da garantia do direito à aprendizagem escolar é possível estabelecer um marco regulatório consistente que possibilita a ação cidadã pela garantia dos direitos estabelecidos em lei e muitas vezes carentes de efetividade.
O direito social da aprendizagem na escola não tem de ser garantido apenas pelas leis ou pela ONU, também é um dever a ser garantido pela família, esta se colocando como sujeito imprescindível no processo. No entanto, é preciso que haja uma reflexão em torno da prática pedagógica que acontece atualmente em nossas escolas e encontremos uma maneira de que ela seja mais construtiva e transformadora. É necessário que os professores se conscientizem sobre a sua importância no processo de ensino-aprendizagem e na influência que sua prática pode causar na vida dos estudantes.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, além de uma formação inicial consistente, é preciso considerar um investimento educativo contínuo e sistemático para que o professor se desenvolva como profissional de educação. O conteúdo e a metodologia para essa formação precisam ser revistos para que haja possibilidade de melhoria do ensino. A formação não pode ser tratada como um acúmulo de cursos e técnicas, mas sim como um processo reflexivo e crítico sobre a prática educativa. Investir no desenvolvimento profissional dos professores é também intervir em suas reais condições de trabalho (BRASIL, 1998).
A escola como um importante setor da sociedade que pode possibilitar a reprodução de uma ordem social pode também fomentar a reconstrução de uma ordem criticada para uma outra realidade desejada, humanizada. Para tanto, é necessário que esta escola seja um espaço de aglutinação de sujeitos que venha a formar a comunidade escolar, num ambiente colaborativo, de cooperação e identidade comum.
Um ponto importante na formulação dessa comunidade escolar que deve ser ressaltado é a necessidade da compreensão clara de quem são os sujeitos que a compõem. Esses sujeitos são oriundos de uma diversidade cultural. O entendimento dessa diversidade e mais, a promoção e valorização dessa diversidade poderão contribuir para que a questão da garantia do acesso à escolarização viabilizada pelos acordos e convenções internacionais não se resumam ao “estar na escola”, mas também ao “estar bem” na escola. Essa escola terá como princípio a participação e a cidadania. Para tanto, os processos de constituição dessa cultura deverão ser alvo de estudos e dedicação dos sujeitos envolvidos.
Ao entendermos a educação como processo cultural, avançamos nas possibilidades de construção identitária. Assim, educação, movimento social e participação cidadã são indissociáveis e imprescindíveis nesse processo. Os movimentos sociais têm essa característica de envolvimento e afirmação de sujeitos históricos. Os sujeitos se constituem assim como produtores e produtos históricos, como sujeitos.
É necessário que haja um movimento de “repensar a escola”. Este repensar perpassa o Projeto Político Pedagógico, documento norteador do cotidiano da escola que deve ser fruto das discussões e reflexões da comunidade escolar, além de definir a função social da escola (atendo-se ao contexto em que ela está inserida). Muitas vezes, infelizmente, o documento é concebido autoritariamente, permanecendo engavetado e estanque. Os educadores, temos de lutar e transformar a realidade que muitas vezes apresenta-se mergulhada em preconceitos e arbitrariedades.
Os instrumentos jurídicos necessários nos são suficientes para forjar uma “nova escola”, uma “nona educação” pautada nos princípios democráticos e da diversidade. Cabe aos sujeitos do processo “ensinar-aprender” escolar construir um novo paradigma para a escola, onde todos sejam partícipes do processo e sujeitos de si. Para tanto, a práxis libertadora deve nortear as ações a reflexões e buscar a construção da verdadeira comunidade escolar, livre, repleta de prazer e amorosidade.

Síntese das reflexões dos educandos Isabel Cristina Elias de Carvalho, Mario Augusto Marques, Viviane Ferreira, Josiani Pereira Laurindo e Diney Lenon de Paulo, do curso de Pós-Graduação em Gênero e Diversidade na Escola, pela UFLA.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Diálogos Teatrais: conceito e prática




Atriz da Cia. Tema ministra oficina teatral

A atriz e diretora artística do grupo de teatro Cia. Tema de Artes Cênicas, Juliana de Almeida, ministrará neste sábado (30/10) a partir das 16:00 h na Cia. Bella de Artes a oficina “Diálogos Teatrais: conceito e prática” voltada para iniciantes e curiosos na área teatral, professores, estudantes e público em geral.
A proposta da oficina é fazer uma abordagem das artes cênicas e posteriormente a prática teatral para iniciantes. O ator e músico Gabriel Sá participará da oficina relatando experiências vividas no mundo cênico.
Juliana de Almeida é atriz profissional (DRT 5055/Sated-MG - RPMT 8588), escritora e diretora teatral. Iniciou sua carreira artística no Conservatório de Poços de Caldas com a saudosa professora Nicionelly de Carvalho (Nicinha) nos anos 90. Juliana teve grande contribuição no surgimento de projetos culturais na cidade, tais como Clínica da Alegria, Charanga dos Artistas e sempre participou efetivamente das artes cênicas em Poços de Caldas. Possui um currículo altamente capacitado indo desde oficinas com os grupos Galpão, Armatrux, Gira Mundo e Ponto de Partida a uma extensa carga horária na técnica teatral "clown". A atriz já participou de mais de quarenta montagens teatrais de humor a drama, de teatro infantil ao teatro do absurdo.
Atualmente Juliana de Almeida é diretora artística da Cia. Tema de Artes Cênicas (Instituto Cultural de Arte-Educação) e vem gerenciando vários projetos cênicos em empresas e o Circuito Teatral.
A oficina faz parte do projeto “Ciclo de Oficinas Culturais Juventude e Cidadania”, através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura com apoio cultural da Alcoa Poços de Caldas. O evento será no Instituto Cultural Companhia Bella de Artes, parceiro do projeto, situado no Edifício Manhattan, Rua Prefeito Chagas, 305, Andar Pilots, com entrada franca.
Maiores informações podem ser obtidas através do endereço eletrônico: www.ciclodeoficinas.blogspot.com, ou através dos telefones 9854 9008, com Greice Keli, Assessora Pedagógica do projeto ou com Diney Lenon, Coordenador do projeto através do telefone: 9976 1513.

domingo, 24 de outubro de 2010

Rock de Subúrbio - Garotos Podres



Uma das maiores bandas punk do Brasil e do mundo. Essa música nos leva a refletir, dentre outros, sobre a alienação juvenil. Viva o rock nacional!

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O governo dos nossos pesadelos




Se a Dilma não é o governo dos nossos sonhos, certamente o Serra é o governo dos nossos pesadelos.
Concluído o primeiro turno do processo eleitoral, há inúmeras análises políticas que buscam interpretar o resultado das urnas e vislumbrar, de imediato, sinais dos possíveis resultados do segundo turno, que será realizado dia 31. Junto com tantas outras análises que surgirão, o trabalho dos marqueteiros dos partidos políticos que estão na disputa, a busca de alianças com os partidos derrotados e as mudanças no que insistem em denominar de programa de governo, na tentativa de agradar o senso comum, irão predominar nos espaços noticiosos até o último dia desse mês.
A campanha eleitoral ficou polarizada entre candidata do PT, Dilma Roussef e o candidato tucano José Serra. O resultado eleitoral, ainda por motivos não totalmente decifráveis, desfez essa polarização com os quase 20 milhões de votos que obteve a candidata Marina da Silva, do PV. Assim, não se concretizou a vitória da candidata do governo Lula no primeiro turno, como era a expectativa.
É possível que o fracasso da eleição plebiscitária – polarização entre o governo FHC e o governo Lula – se deva aos ataques e manipulações de baixo nível protagonizadas pela mídia burguesa, pela sórdida campanha realizada pelos setores religiosos mais conservadores das igrejas Católica e Evangélicas à candidatura de Dilma.

Mas também não é possível ignorar que uma parcela significativa dos eleitores se sentiu decepcionada com a despolitização da campanha, que se propunha a confrontar com o governo neoliberal dos tucanos. Denunciar os descalabros que sãos os 16 anos de administração tucana em São Paulo ficou ausente da campanha. A corrupção acobertada pelo domínio sobre as assembleias legislativas, sobre os tribunais de contas e setores do poder judiciário e completa subordinação da mídia aos seus interesses asseguram a impunidade dos governo tucanos e vicejam lideranças políticas sem nenhum compromisso com a ética e com a verdade. Deixar as bandeiras históricas da classe trabalhadora aos candidatos sem chances de vitória eleitoral foi um erro da candidata petista. Militantes sociais, mesmo decepcionados com o governo Lula, mas cientes do que significa uma vitória tucana, sentiram-se órfãos nessa campanha. Estavam sem porta-vozes das bandeiras das lutas populares e os discursos bem elaborados nos gabinetes acadêmicos não os seduziram.
Lastimável foi também a atuação das autoridades eleitorais nesse processo. A história há de registrar a participação ativa da controvertida vice-procuradora-geral eleitoral, doutora Sandra Cureau. Sua tentativa de cercear a revista Carta Capital, por não estar subordinada aos interesses do candidato tucano e a resposta do editor da publicação semanal, Mino Carta, estarão registrados tanto nas escolas de jornalismo quanto das do poder judiciário eleitoral.
Coube ainda ao poder judiciário deixar indefinida a questão da “ficha limpa”. Milhares de eleitores votaram em candidatos e candidatas que não sabiam se estavam ou não aptos para disputar a eleição. Se o Tribunal agora decidir pela inaptidão do candidato, seus eleitores fizeram a papel de bobos, não porque são, mas pela incompetência daquele.
O mesmo se pode dizer da exigência legal da documentação para votar. A lei exigia o título de eleitor e um documento oficial com foto. É a bizarra situação jurídica em que um documento oficial tem que comprovar a veracidade de outro documento. O Supremo Tribunal Federal revogou a lei e exigiu obrigatoriamente um documento oficial com foto. Jogou-se o título de eleitor, definido pelas autoridades eleitorais que não teria foto, na lata do lixo.
Coube ainda mais um deslize do Supremo Tribunal Federal: a descoberta de que um de seus membros, Gilmar Mendes, (Dantas, para alguns da mídia), foi monitorado pelo candidato tucano na sessão que julgou a necessidade ou não de dois documentos para votar. Até o momento, nenhum pronunciamento do STF sobre esse caso vergonhoso a que foi submetido. O impeachment do Mendes/Dantas se torna um imperativo.

Sobre a mídia burguesa, talvez tenha sido a maior conquista da sociedade brasileira nesse processo eleitoral. Ela mesma - frente à fragilidade dos partidos direitistas - se outorgou o papel de ser o partido de oposição ao governo Lula. Não poupou espaços em seus noticiários para algumas lideranças do campo de esquerda – desde que fosse para falar de escândalos pontuais e atacar a pessoalmente a candidata Dilma. Não hesitou em massacrar o currículo de vida de pessoas públicas, mesmo sem provas. Recorreu a receptador de cargas de mercadorias roubadas, repassador de notas falsas de dinheiro, condenado pela justiça, para noticiar fatos não comprovados. “Assassinou” um senador (Romeu Tuma) hospitalizado. Enfim, caiu a máscara da mídia burguesa. Ganhamos!
Nesse sentido, precisamos consolidar essa vitória conquistando uma lei de controle social sobre os meios de comunicação, que garantam a liberdade de expressão e o direito a informação ao povo brasileiro. A bandeira da democratização da comunicação é da esquerda e dos movimentos sociais, não dos demotucanos e dos proprietários dos meios de comunicação.
Agora é o espaço de luta do segundo turno das eleições. Não há espaço em cima do muro. Os movimentos populares da Via Campesina brasileira, já no início do processo eleitoral, tomaram a definição de impedir o retrocesso ao governo neoliberal, representado pela candidatura de José Serra.

É hora de levar essa decisão, buscando a unidade, com todos os movimentos populares, sindicais e estudantis, do campo e da cidade. Se a Dilma não é o governo dos nossos sonhos, certamente o Serra é o governo dos nossos pesadelos.

Fonte: www.brasildefato.com.br

Wagner Moura: Eu apóio o MST!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Preconceito




Preconceito é um "juízo" preconcebido, manifestado geralmente na forma de uma atitude "discriminatória" perante pessoas, lugares ou tradições considerados diferentes ou "estranhos". Costuma indicar desconhecimento pejorativo de alguém, ou de um grupo social, ao que lhe é diferente. As formas mais comuns de preconceito são: social, "racial" e "sexual".
De modo geral, o ponto de partida do preconceito é uma generalização superficial, chamada "estereótipo". Exemplos: "todos os alemães são prepotentes", "todos os norte-americanos são arrogantes", "todos os ingleses são frios". Observar características comuns a grupos são consideradas preconceituosas quando entrarem para o campo da agressividade ou da discriminação, caso contrário reparar em características sociais, culturais ou mesmo de ordem física por si só não representam preconceito, elas podem estar denotando apenas costumes, modos de determinados grupos ou mesmo a aparência de povos de determinadas regiões, pura e simplesmente como forma ilustrativa ou educativa.
Observa-se então que, pela superficialidade ou pela estereotipia, o preconceito é um erro. Entretanto, trata-se de um erro que faz parte do domínio da crença, não do conhecimento, ou seja ele tem uma base irracional e por isso escapa a qualquer questionamento fundamentado num argumento ou raciocínio.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Preconceito

domingo, 12 de setembro de 2010

Em nome de quê? Por Frei Betto



Muitos pais, professores e psicólogos se queixam de que parcela considerável da juventude carece de referências morais. Inúmeros jovens mergulham de cabeça na onda neoliberal de relativização de valores. Tornam público o privado (vide YouTube), são indiferentes à política e à religião, praticam sexo como esporte e, em matéria de valores, preferem os do mercado financeiro.

Sou da geração que fez 20 anos de idade na década de 1960. Geração literalmente inovadora (a Bossa era Nova, o Cinema era Novo etc.), que injetava utopia na veia e se pautava por ideologias altruístas. Queríamos apenas mudar o mundo. Derrubar as ditaduras, a fome e miséria, as desigualdades sociais, o imperialismo e o moralismo.

Em nome do mundo sem opressão, que muitos de nós identificávamos com o socialismo, lutamos pela emancipação da mulher, contra o apartheid e em defesa dos povos indígenas. Sobretudo trouxemos ao centro da roda a questão ecológica.

Já a geração de nossos pais acreditava na indissolubilidade do casamento, na virgindade pré-conjugal como valor, na religião como inspiradora da conduta moral, na prevalência da produção sobre a especulação. Em nome de Deus, as consciências estavam marcadas pelo estigma do pecado.

Todas as gerações têm aspectos positivos e negativos. Se a minha se nutriu de ideologias libertárias, que nela incutiram espírito de sacrifício e solidariedade, a de meus pais acreditou na perene estabilidade das quatro instituições pilares da modernidade: a religião, a família, a escola e o Estado.

Esta geração da primeira metade do século XX não logrou superar o patriarcalismo, o preconceito a quem não lhe era racial e socialmente semelhante, a fé positivista nos benefícios universais da ciência e da tecnologia.

A geração posterior, a da segunda metade do século passado, promoveu a ruptura entre sentimento e sexualidade; idealizou os modelos soviético e chinês de socialismo, com seus gulags e suas "revoluções culturais"; e hoje troca a militância revolucionária pelo direito de ser burguesa sem culpa.

Ora, a crescente autonomia do indivíduo, apregoada pelo neoliberalismo, faz com que muitos jovens se perguntem: em nome de quê devemos aceitar normas morais além das que decido que me convêm? E as adotam convencidos de que elas possuem prazo de validade tão curto quanto o hambúrguer da esquina.

Se a repressão marcou a geração de meus pais e a revolução (política, sexual, religiosa etc.) a de minha juventude, hoje o estímulo à perversão ameaça os jovens. Respira-se uma cultura de desculpabilização, já que, na travessia do rio, se deu as costas à noção de pecado e ainda não se aportou na interiorização da ética. Parafraseando Dostoiévski, é como se Deus não existisse e, portanto, tudo fosse permitido.

Quem é hoje o enunciador coletivo capaz de ditar, com autoridade, o comportamento moral? A Igreja? A católica certamente não, pois pesquisas comprovam que a maioria de seus fiéis, malgrado proibições oficiais, usa preservativo, não valoriza a virgindade pré-matrimonial e frequenta os sacramentos após contrair nova relação conjugal. As evangélicas ainda insistem no moralismo individual, sem olho crítico para o caráter antiético das estruturas sociais e a natureza desumana do capitalismo.

Onde a voz autorizada? O Estado certamente não é, já que pauta suas decisões de acordo com o jogo do poder e o faturamento eleitoral. Hoje ele condena o desmatamento da Amazônia, os transgênicos, o trabalho escravo, e amanhã aprova seja lá o que for para não perder apoio político.

O enunciador coletivo, o Grande Sujeito, existe: é o Mercado. Ele corrompe crianças, no modo de induzi-las ao consumismo precoce; corrompe jovens, no modo de seduzi-los a priorizar como valores a fama, a fortuna e a estética individual; corrompe famílias através da hipnose televisiva que expõe nos lares o entretenimento pornográfico. E para proteger seus interesses, o Mercado reage violentamente quando se pretende impor-lhe limites. Furioso, grita que é censura, é terrorismo, é estatização, é sabotagem!

As futuras gerações haverão de conhecer a barbárie ou a civilização? A neurose da competitividade ou a ética da solidariedade? A globocolonização ou a globalização do respeito e da promoção dos direitos humanos - a dimensão social do amor?

Pais, professores, psicólogos, e todos que se interessam pela juventude, estão desafiados a dar resposta positiva a tais questões.


Frei Betto é escritor, autor de "A mosca azul - reflexão sobre o poder" (Rocco), entre outros livros.
www.freibetto.org
Twitter:@freibetto

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

16º Grito dos Excluídos! Poços de Caldas se mobilizou




O 16º Grito dos Excluídos, sob o lema “Onde estão nossos direitos? Vamos às ruas para construir um projeto popular” tomou as ruas do país onde movimentos sociais, pastorais sociais levantaram bandeiras pontuais em relação aos problemas sociais vividos pela ampla maioria da população brasileira.
Iniciado e incentivado pela CNBB – Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, o Grito se tornou uma marca sempre presente nos eventos comemorativos na Semana da Pátria. Somado ao Plebiscito Popular pelo limite da propriedade da terra, o movimento esteve presente em todas as capitais do país e no interior, como é o caso de Poços de Caldas.
Articulado pelo Núcleo Laudelina Campos de Mello, o Plebiscito Popular coletou mais de duas mil assinaturas na PEC – Proposta de Emenda Constitucional que visa estabelecer no Artigo 186 da Constituição Federal, exatamente o que trata sobre a função social da terra, um limite máximo de 35 módulos fiscais (entre 175 a 3700 há, de acordo com a região e fatores econômicos e sociais) para a propriedade fundiária.
A proposta dos movimentos sociais é possibilitar com a aprovação da PEC o acesso de milhões de famílias Sem Terra ao bem necessário à vida no campo e aumentar a produção de alimentos saudáveis e a geração de empregos, tanto no campo, como na cidade. Segundo dados do IBGE (2006), apenas 1% dos proprietários têm 44% da área das terras agricultáveis tituladas, enquanto quase a metade dos pequenos produtores (proprietários com até 10 há) ocupa uma área pouco maior do que 2% do total. A proposta visa diminuir essa diferença grotesca que contribui para que o Brasil seja um dos países com maior desigualdade social do mundo e também dos países onde os conflitos do campo matam anualmente dezenas de pessoas.
O Grito dos Excluídos é momento onde a população exercita seu direito à livre manifestação do pensamento, se posiciona diante dos problemas sociais e desafios vivenciados pelos brasileiros geralmente excluídos dos processos decisórios, de geração de renda e outros. O foco das manifestações é voltado para questões nacionais, como o pagamento da dívida externa, a reforma agrária, o desemprego, os problemas de habitação. Cada cidade que organiza o movimento também levanta bandeiras de questões locais, regionais e estaduais.
Em Poços de Caldas, o Grito centrou suas bandeiras na crítica à construção do Paço Municipal em área que, segundo órgãos e entidades competentes, deveria ser área de preservação ambiental. O Sistema Integrado Grande Amigo – SIGA foi o alvo maior das críticas, havendo inclusive uma representação teatral durante a manifestação. A taxa de lixo e seu aumento, que em alguns casos chegou a 60%, (numa única vez!) foi muito criticada pelos manifestantes e a crítica do movimento foi aplaudida pelos cidadãos.
A manifestação aconteceu após o desfile cívico e contou com a participação de dezenas de militantes sociais, religiosos, estudantes e artistas. Apesar de tentativas de um grupo articulado de pessoas de desestabilizar, atrasar e até intimidar o movimento, graças à persistência e ao apoio e clamor da população para a liberação da manifestação, o movimento chegou ao palanque das autoridades para expressar seu “grito”, mas estas já haviam rapidamente “desaparecido”.
O movimento foi alegre, colorido, com bandeiras e aclamado pelo público. Enquanto os cães ladravam, a caravana passava. Isso é democracia, “povo nas ruas”! Parabéns aos militantes, organizadores e população que aderiu à manifestação. Parabéns ao ex-Prefeito que lá estava e que, apesar do apelido de “coronel”, sorriu, aplaudiu e soube respeitar o movimento cívico, diferente de algumas de suas crias, que usando o microfone, falando à imprensa demonstrava seu “transtorno” em relação ao manifesto!
O Grito acontece e não foi o primeiro, nem o último, seja qual governante for, os excluídos estarão nas ruas cumprindo seu papel na democracia, levantando bandeiras, apontando caminhos e crescendo e promovendo a mais pura e verdadeira cidadania.

domingo, 5 de setembro de 2010

GRITO DOS EXCLUÍDOS EM POÇOS DE CALDAS



Participe do Grito dos Excluídos no dia 07 de setembro!

A concentração se dará a partir das 10:30h, em frente ao Fórum (Rua Pernambuco) e às 11:30h na esquina da Rua Minas Gerais com Rua Paraíba.
Sairemos após a última banda a se apresentar no Desfile em comemoração à nossa “independência” e iremos protestar por:

- Um modelo de transporte público de qualidade que atenda às necessidades da população e não de uma determinada empresa (MANIFESTAÇÃO CONTRA O SIGA – Sistema Integrado Grande Amigo);

- Uma taxa de lixo compatível com a renda e realidade econômica da maiora da população de Poços de Caldas, pois o aumento desse ano efetuado pela Prefeitura chega a quase 60% para muitos cidadãos, refletindo no aumento do custo de vida, do aluguel e outros;

- Uma explicação sobre o que houve com nossa água “esverdeada” da Represa Saturnino de Brito contra a falta de água que assola bairros da cidade;

- Uma relação de respeito e garantia da reposição salarial dos funcionários públicos municipais, que até hoje estão sem aumento de salário e sem explicação condigna com a função social do servidor público;

- Respeito ao meio ambiente, com atenção para o que dizem órgãos respeitados na área sobre a construção do Paço Municipal em área dita de recarga de mananciais d’água e de preservação ambiental;

- Respeito à vontade da população no que for decidido pelo Plebiscito Popular pelo Limite da Propriedade da Terra;

- Atenção às reivindicações da juventude quanto à valorização dos artistas locais, da cultura e esporte e incentivo à educação;

PARTICIPE DESSA MANIFESTAÇÃO CÍVICA, POPULAR E DEMOCRÁTICA!

AJUDE A DIVULGAR, VAMOS DEMONSTRAR ÀS AUTORIDADES QUE O POVO UNIDO FAZ HISTÓRIA!

10 MOTIVOS PARA SE LIMITAR O TAMANHO DA PROPRIEDADE DA TERRA NO BRASIL



1- Porque a concentração de terra é a grande responsável pela miséria e fome em nosso país.

2 - Porque no Brasil se uma pessoa quiser comprar todas as terras privadas de Norte a Sul, de Leste ao Oeste, pode! Pois não existe uma lei que limite o tamanho da propriedade de terra no nosso país.

3 - Porque o latifúndio e o agronegócio, no ultimo século, expulsaram mais de 50 milhões de pessoas do campo, provocando o surgimento de milhares de favelas em todo o País, onde vivem mais de 80 milhões de brasileiros e brasileiras em condições desumanas. Se não houver uma Reforma Agrária decente este número vai aumentar ainda mais.

4 - Porque muitas famílias sem terra poderiam ter acesso à terra e com isso aumentaria a produção de alimentos, pois a agricultura familiar e camponesa é a responsável pela produção dos alimentos da mesa dos brasileiros.

5 - Porque são as pequenas propriedades que produzem alimentos orgânicos, livre dos agrotóxicos e é um direito das populações do campo e da cidade ter uma alimentação saudável

6 - Porque a agricultura familiar e camponesa cria muito mais empregos. Emprega 15 pessoas a cada 100 hectares, enquanto que o agronegócio emprega apenas duas.

7 - Porque o latifúndio e o agronegócio são os grandes responsáveis pela violência no campo e pela exploração do trabalho escravo.

8 - Porque banqueiros, grandes empresários e corporações internacionais são donos de grande parte dos latifúndios. Muitos nunca plantaram um pé de cebola.

9 - Porque 1% dos estabelecimentos rurais, com área de mais 1 mil hectares e ocupa 44% de todas as terras, enquanto praticamente 50% dos estabelecimentos com menos de 10 hectares, ocupam somente, 2,36% da área.

10 - Porque no século passado pelo menos 20 países estabeleceram um limite para propriedade rural, entre eles países desenvolvidos como Itália, Japão, Coréia do Sul. Agora é a nossa vez!

Se você concorda que é preciso acabar com a concentração de terras e riqueza em nosso país. Se você está cansado de tanta desigualdade e acredita que com uma Reforma Agrária justa podemos desenvolver o Brasil não só economicamente, mas também no âmbito social, gerando renda, empregos e distribuição de renda, você pode ajudar a mudar o Brasil!

De 1 a 7 de setembro participe do Plebiscito Popular pelo Limite da Propriedade da Terra. Diga sim! Coloque limites em quem não tem!

Exerça sua cidadania e mostre que, juntos, podemos conquistar o que é de direito de todos os brasileiros e brasileiras.








De 01 a 07 de setembro
Plebiscito Popular pelo Limite da Propriedade da Terra





Em Poços de Caldas, participe votando nos dias 03 a 7 de setembro, na porta do Bqanco Unibanco, Rua Assis Figueiredo ou no DIA 7 DE SETEMBRO, DURANTE O DESFILE!