domingo, 28 de março de 2010

Movimentos Sociais e Educação Popular


A construção da cidadania, e o seu conseqüente engajamento político é um processo que se verifica em alguns aspectos do desenvolvimento dos estudos sobre movimentos sociais e educação popular que se entrelaçam em pesquisas na área das ciências sociais a partir da década de 70 do século passado.
Esse aspecto é ressaltado por Maria da Glória Gohn, em seu livro intitulado: Movimentos Sociais e Educação. No exame dos princípios e métodos da educação popular encontramos várias manifestações que se fazem presentes, concretamente, nos movimentos sociais populares dos anos 80. A autora também ressalta que quando a produção sobre os movimentos sociais cresce, ocorre o inverso com a educação popular, ela declina.
O desenvolvimento autônomo da literatura sobre educação popular e movimento social popular urbano passa por uma transformação, “a educação popular propriamente dita inverte a sua correlação, da educação fundamental para o fundamental da educação”, e nesse ponto é exemplo o MEB – Movimento de Educação de Base – e os programas do Sistema Paulo Freire.
Após a sua fase embrionária, durante a década de 50, onde houve uma grande produção intelectual a nível nacional, (Octávio Ianni, Antônio Cândido, Maria Isaura Pereira de Queirós...) a década de 60 sofreu grande influência da sociologia francesa. Na década de 70, devido à conjuntura do momento, as políticas de educação popular se voltavam para a formulação de estímulos à energia da sociedade civil, a saber os oprimidos, a fala do povo, a construção da consciência e participação política.
Na área da educação, os programas “alternativos” da educação popular se transformam em trabalhos coletivos de equipes junto a populações pobres de áreas específicas. Em contraposição às políticas de assistencialismo desenvolvidas pelo Estado, os movimentos sociais progressistas pressupunham que “as populações mais marginalizadas e mais pobres se apropriem de um novo saber-instrumento; um saber que pode ser usado diretamente na realização dos objetivos sociais desta camada”, tendo como referencial o Sistema Paulo Freire.
Os movimentos populares são uma extensão das práticas educativas desenvolvidas pelos programas de educação popular, nos movimentos sociais a educação é auto-construída no desenvolver do processo e o educativo surge de diferentes fontes.
Mas também é necessário fazer uma autocrítica quanto à postura de alguns movimentos sociais, que “se distanciam de seu objetivo maior em função de querelas secundárias, na defesa de seus redutos e propostas político-eleitorais, deslumbrados pelo poder local”. Diante dessa problemática a autora aponta para a necessidade de se considerar um “antigo ensinamento, tão ignorado: a questão não é lutar pelo poder estatal mas construir uma nova sociedade, reorganizar a sociedade de forma diferente, não mais em cima de utopia de um coletivo abstrato, organizado pelas palavras de ordem de minorias com sede de poder, ainda que um poder mais democrático, organizar a resistência a partir dos indivíduos, de suas singularidades, de seus desejos e aspirações... a partir destes pressupostos é que deveremos construir novas práticas coletivas”.
Após a leitura do texto de Maria da Glória Gohn, percebe-se que a essência de um movimento social está na sua base, na sua construção, ou seja, na educação popular, no desenvolvimento da consciência cidadã e crítica. A cidadania plena só pode ser desenvolvida no movimento social, onde a educação popular é o elemento fundamental da construção da identidade e da auto-afirmação, e esse processo é autêntico, uno, sem fórmulas doutrinárias, apenas a união da ação consciente e pedagógica pode fazer dos indivíduos elementos coesos dentro de um coletivo operador e transformador da sua história.

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