sexta-feira, 25 de março de 2011

Mentiras sobre a invasão na Líbia




É costume dizer que em uma guerra, a primeira vítima é a verdade. As operações militares na Líbia e a resolução 1973, que serve como base jurídica, não são uma exceção à regra. São apresentadas ao público como necessárias para proteger a população civil vítima da repressão indiscriminada do coronel Kadafi. Na realidade, têm objetivos imperialistas clássicos.

Por Thierry Meyssan

Vejamos a seguir alguns elementos clássicos:

Crimes contra a humanidade

Com a intenção de piorar o panorama, a mídia corporativa fez crer que as centenas de milhares de pessoas que fugiam da Líbia estavam tratando de escapar de um massacre. Agências de notícias falaram de milhares de mortos e de "crimes contra a humanidade". A resolução 1970 denunciou perante a Corte Penal Internacional possíveis "ataques sistemáticos ou generalizados contra a população civil". O conflito líbio tem na realidade uma leitura politica e, por sua vez, uma leitura em termos tribais. Os trabalhadores imigrantes foram as primeiras vítimas do enfrentamento. Bruscamente, viram-se obrigados a partir. Os combates entre os partidários de Kadafi e os sublevados foram certamente sangrentos, mas não nas proporções anunciadas. Nunca houve uma repressão sistemática contra a população civil.

Apoio à "primavera árabe"

Em seu discurso perante o Conselho de Segurança, o ministro francês de Relações Externas, Alain Juppé, elogiou a "primavera árabe" em geral e a insurreição líbia em particular.

Seu lírico discurso escondia terríveis intenções. Não disse uma única palavra sobre a sangrenta repressão no Iêmen e no Barein, mas elogiou o rey Mohamed VI, de Marrocos, como se tratasse de um dos militantes revolucionários, contriuindo assim para piorar a desastrada imagem da França que existe no mundo árabe, graças à presidência de Sarkozy.

Apoio da União Africana e da Liga Árabe

Desde o início destes acontecimentos, França, Reino Unido e Estados Unidos não deixam de afirmar que esta não é uma guerra ocidental, embora o ministro francês do Interior, Claude Gueant, tenha falado de uma "cruzada" de Sarkozy. Os três países mencionados se escudam assim no apoio que sopostamente teriam recebido da União Africana e da Liga Árabe.

A realidade é que a União Africana condenou a repressão e reconheceu a legitimidade das exigências pela democracia, mas se pronunciou em todos os momentos contra uma intervenção armada estrangeira. Em relação à Liga Árabe, se trata de uma organização que reúne principalmente uma série de regimes ameaçados por revoluções similares. Esses regimes apoiaram o mesmo princípio de contrarrevolução ocidental — alguns deles inclusive estão participando dela no Barein — mas não podem se dar o luxo de chegar a apoiar uma verdadeira guerra ocidental, porque teriam de enfrentar uma aceleração dos movimentos de oposição internos que poderiam derrotá-los.

Reconhecimento do Conselho Nacional Líbio de Transição

Há três zonas sublevadas na Líbia. Um Conselho Nacional de Transição foi constituído em Benghazi. Em seguida se fundiu com o Governo Provisório, criado pelo ministro de Justiça de Kadafi, que se uniu aos sublevados. Foi esse mesmo personagem, segundo as autoridades búlgaras, que organizou as torturas contra as enfermeiras búlgaras e o médico palestino que o regime manteve detido por um longo tempo.

Ao outorgar seu reconhecimento a este Conselho Nacional Líbio de Transição e ao eximir de toda culpa seu novo presidente, a coalizão de países ocidentais escolhe seus interlocutores e os impõe aos sublevados como dirigentes. Isso permite afastar os revolucionários nasseristas, comunistas e khomeinistas.

O objetivo é adiantar-se aos acontecimentos e evitar o que aconteceu na Tunísia e no Egito, quando os ocidentais impuseram um governo do partido de Ben Ali sem Ben Ali ou um governo de Suleiman sem Mubarak, governos que os revolucionários derrubaram do mesmo modo.

Embargo sobre o armamento

Se o objetivo era proteger a população, teria bastado instaurar um embargo aos mercenários e ao armamento destinado ao exército de Kadafi. Em vez disso, o embargo também foi extendido aos sublevados, como prevenção contra sua possível vitória. O verdadeiro objetivo era deter a revolução.

Zona de exclusão aérea

Se o objetivo fosse proteger a população civil, a zona de exclusão se limitaria aos territórios sublevados, como foi feito no Iraque com o Curdistão. A realidade é que a proibição de voo se extende a todo o país. Desse modo, a coalizão espera manter a correlação de forças em terra e dividir o país em quatro partes: as três sublevadas e a zona líbia.

Esta divisão de fato da Líbia deve ser comparada com a do Sudão e da Costa do Marfim, as primeiras etapas do "redesenho da África".

Congelamento de bens

Se o objetivo fosse proteger a população civil, teria sido determinado apenas o congelamento dos bens pessoais da família de Kadafi e dos altos funcionários do regime, para impedi-los de violar o bloqueio sobre o armamento. No entanto, esse congelamento foi extendido também aos bens do Estado líbio. O fato é que a Líbia, sendo um rico Estado petroleiro, dispõe de um tesouro considerável, parte do qual está investido no Banco do Sul, instituição que se dedica ao financiamento de projetos no Terceiro Mundo. Como assinalou o presidente da Venezuela Hugo Chávez, o congelamento de bens não protegerá os civis. Seu objetivo e restabelecer o monopólio do Banco Mundial e do FMI.

Coalizão de voluntários

Se o objetivo fosse proteger a população civil, o encarregado de aplicar a resolução 1973 seria a ONU, Ao invés disso, as operações militares são cooredenadas atualmente pelo US AfriCom, o comando americano na África e, supostamente, passarão para o comando da Otan. É por isso que o ministro de Relações Externas da Turquia, Ahmet Davutoglu, mostrou-se indignado diante da iniciativa francesa na agressão e exigiu explicações por parte da Otan.

De maneira mais direta, o premiê russo Vladímir Pútin qualificou a resolução 1973 como viciada e inadequada. "Se alguém ler a resolução verá que ela autoriza qualquer um a tomar medidas contra um Estado soberano. Tudo isso me lembra a conclamação medieval à cruzada", concluiu Pútin.

Fonte: Cubadebate

quinta-feira, 24 de março de 2011

A visita de Obama ao Brasil


Por Vigílio Arraes

Na campanha presidencial norte-americana de 2008, a candidatura democrata, representada por Barack Obama, entusiasmou não só o eleitorado local, mas boa parte da opinião pública mundial, ao firmar o compromisso de mudar a forma de administração do país. Naquele momento, a desolação administrativa da Casa Branca, sob conduta republicana, alastrava-se a olhos vistos, ao embaraçar-se militarmente em dois países no Oriente Médio e adjacências e ao atrapalhar-se cada vez mais economicamente, até desaguar em uma severa crise, com efeitos até hoje em todo o planeta.
Desta maneira, Obama angariou, em um primeiro momento, a atenção da sociedade, ao beneficiar-se de modo indireto de uma gestão presidencial ineficiente; mais adiante, contudo, ele obteria por mérito próprio, através das propostas e da boa retórica, o apoio dos eleitores, em especial o dos mais jovens, segmento mais desestimulado tradicionalmente na participação eleitoral.
O reconhecimento da conduta inadequada da política externa do país proporcionou a Barack Obama simpatia ao redor do mundo, mesmo no Brasil – no segundo semestre de 2008, período de eleição municipal no país, a imprensa registrou ao menos seis candidatos com seu nome. Ele posicionava-se contra a existência de prisões secretas para prisioneiros das duas guerras, tendo como símbolo Guantánamo, e contra a indefinição da presença militar no Iraque e, ao mesmo tempo, inclinava-se a favor de maior diálogo com os chamados países renegados, entre os quais se destacava o Irã, por conta do desenvolvimento do programa de energia nuclear.
Quase dois anos e meio depois, a avaliação de Obama alterou-se, uma vez que a maior parte das promessas não foi cumprida, ainda que se reconheça o pesado fardo legado pelo governo predecessor. Assim, sua popularidade, tanto interna como externa, decresceu, visto que a economia norte-americana não se recuperou muito bem, o que significa uma taxa de desemprego próxima de dois dígitos, e a política externa não se modificou, o que se traduz na manutenção das carceragens encobertas e na permanência em solo iraquiano, não obstante o estabelecimento de um cronograma de retirada.
Nos últimos dias, mais problemas se somaram à tensa rotina da Casa Branca: no plano externo, a convulsão política no norte da África, na qual a expressão maior é a Líbia, e o desastre natural no Japão, do qual há possibilidade de se ocasionar grandes danos nucleares nas imediações; no interno, a disputa entre os servidores públicos e o governo de Wisconsin, por conta da proposta de se retirar o direito de dissídio coletivo de quase duzentos mil trabalhadores e de se reduzir a contribuição patronal para a aposentadoria e para o plano de saúde. Outros vinte estados tentam efetivar medidas similares, inclusive Illinois, berço político do presidente. O efeito nas eleições presidenciais de 2012 pode ser desastroso ao Partido Democrata.
Ante o exposto, a curta visita do presidente Barack Obama a três países da América Latina, embora programada com bastante antecedência, quase foi cancelada. Os destinos – Brasil, Chile e El Salvador - haviam sido cuidadosamente selecionados – locais em que a popularidade do dirigente é significativa ou o antiamericanismo, menor.
No Brasil, país com o qual os Estados Unidos têm tido bom relacionamento político e principalmente comercial, a presença se estendeu por meros dois dias. Nenhum tema espinhoso foi abordado de maneira incisiva. Assim, exportação de biocombustível, concessão de vistos a brasileiros, venda de caças, exploração do pré-sal, existência da Quarta Frota, presença norte-americana na Colômbia, política nuclear do Irã ou mesmo destino da ditadura da Líbia, por conta da recente divergência entre ambos no Conselho de Segurança das Nações Unidas, não foram abarcados de forma extensa.
A presença de Barack Obama é considerada uma deferência política a Dilma Rousseff – normalmente, o dirigente estadunidense retribui visita. Desta vez, não houve isso. Prevê-se que ela irá a Washington em junho deste ano. Pondera-se que Obama não teria visitado o país no ano passado, na esteira da viagem de Hillary Clinton em março, a fim de demonstrar a insatisfação da Casa Branca no tocante ao apoio do governo Lula à política nuclear iraniana.
O local escolhido para discursar à população brasileira simboliza um tom menos sisudo da presente viagem: o Rio de Janeiro, onde esteve presente com a família, uma das cidades-sedes da Copa do Mundo de 2014 e sede da futura Olimpíada de 2016. Desta forma, Obama auxilia a divulgar a cidade de modo positivo, ao ser ela o centro dos dois maiores acontecimentos turísticos do globo nos próximos anos.
Todavia, ele não descuidou do lado comercial da visita, ao encaminhar a negociação para que se possa incluir a participação efetiva de corporações de seu país no andamento dos dois eventos. Porém, o objetivo da visita foi, no curto prazo, o de reiterar de modo simbólico a boa relação entre os dois mais importantes países da região.

Virgílio Arraes é doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Fonte: www.correiodacidadania.com.br 

quarta-feira, 16 de março de 2011

Another break in the wall. Roger Waters, mais um militante da causa palestina

Roger Waters é mais um militante da causa palestina

Em 1980, uma canção que escrevi, "Another Brick in the Wall Part 2", foi proibida pelo governo da África do Sul porque estava a ser usada por crianças negras sul-africanas para reivindicar o seu direito a uma educação igual. Esse governo de apartheid impôs um bloqueio cultural, por assim dizer, sobre algumas canções, incluindo a minha.
Vinte e cinco anos mais tarde, em 2005, crianças palestinas que participavam num festival na Cisjordânia usaram a canção para protestar contra o muro do apartheid israelita. Elas cantavam: "Não precisamos da ocupação! Não precisamos do muro racista!" Nessa altura, eu não tinha ainda visto com os meus olhos aquilo sobre o que elas estavam a cantar.
Um ano mais tarde, em 2006, fui contratado para actuar em Telavive.
Palestinos do movimento de boicote académico e cultural a Israel exortaram-me a reconsiderar. Eu já me tinha manifestado contra o muro, mas não tinha a certeza de que um boicote cultural fosse a via certa. Os defensores palestinos de um boicote pediram-me que visitasse o território palestiniano ocupado para ver o muro com os meus olhos antes de tomar uma decisão. Eu concordei.
Sob a protecção das Nações Unidas, visitei Jerusalém e Belém. Nada podia ter-me preparado para aquilo que vi nesse dia. O muro é um edifício revoltante. Ele é policiado por jovens soldados israelitas que me trataram, observador casual de um outro mundo, com uma agressão cheia de desprezo. Se foi assim comigo, um estrangeiro, imaginem o que deve ser com os palestinos, com os subproletários, com os portadores de autorizações. Soube então que a minha consciência não me permitiria afastar-me desse muro, do destino dos palestinos que conheci, pessoas cujas vidas são esmagadas diariamente de mil e uma maneiras pela ocupação de Israel. Em solidariedade, e de alguma forma por impotência, escrevi no muro, naquele dia: "Não precisamos do controlo das ideias".
Realizando nesse momento que a minha presença num palco de Telavive iria legitimar involuntariamente a opressão que eu estava a testemunhar, cancelei o meu concerto no estádio de futebol de Telavive e mudei-o para Neve Shalom, uma comunidade agrícola dedicada a criar pintainhos e também, admiravelmente, à cooperação entre pessoas de crenças diferentes, onde muçulmanos, cristãos e judeus vivem e trabalham lado a lado em harmonia.
Contra todas as expectativas, ele tornou-se no maior evento musical da curta história de Israel. 60.000 fãs lutaram contra engarrafamentos de trânsito para assistir. Foi extraordinariamente comovente para mim e para a minha banda e, no fim do concerto, fui levado a exortar os jovens que ali estavam agrupados a exigirem ao seu governo que tentasse chegar à paz com os seus vizinhos e que respeitasse os direitos civis dos palestinos que vivem em Israel.
Infelizmente, nos anos que se seguiram, o governo israelita não fez nenhuma tentativa para implementar legislação que garanta aos árabes israelitas direitos civis iguais aos que têm os judeus israelitas, e o muro cresceu, inexoravelmente, anexando cada vez mais da faixa ocidental.
Aprendi nesse dia de 2006 em Belém alguma coisa do que significa viver sob ocupação, encarcerado por trás de um muro. Significa que um agricultor palestiniano tem de ver oliveiras centenárias ser arrancadas. Significa que um estudante palestiniano não pode ir para a escola porque o checkpoint está fechado. Significa que uma mulher pode dar à luz num carro, porque o soldado não a deixará passar até ao hospital que está a dez minutos de estrada. Significa que um artista palestiniano não pode viajar ao estrangeiro para exibir o seu trabalho ou para mostrar um filme num festival internacional.
Para a população de Gaza, fechada numa prisão virtual por trás do muro do bloqueio ilegal de Israel, significa outra série de injustiças. Significa que as crianças vão para a cama com fome, muitas delas malnutridas cronicamente. Significa que pais e mães, impedidos de trabalhar numa economia dizimada, não têm meios de sustentar as suas famílias. Significa que estudantes universitários com bolsas para estudar no estrangeiro têm de ver uma oportunidade escapar porque não são autorizados a viajar.
Na minha opinião, o controlo repugnante e draconiano que Israel exerce sobre os palestinos de Gaza cercados e os palestinos da Cisjordânia ocupada (incluindo Jerusalém oriental), assim como a sua negação dos direitos dos refugiados de regressar às suas casas em Israel, exige que as pessoas com sentido de justiça em todo o mundo apoiem os palestinos na sua resistência civil, não violenta.
Onde os governos se recusam a actuar, as pessoas devem fazê-lo, com os meios pacíficos que tiverem à sua disposição. Para alguns, isto significou juntar-se à Marcha da Liberdade de Gaza; para outros, isto significou juntar-se à flotilha humanitária que tentou levar até Gaza a muito necessitada ajuda humanitária.
Para mim, isso significa declarar a minha intenção de me manter solidário, não só com o povo da Palestina, mas também com os muitos milhares de israelitas que discordam das políticas racistas e coloniais dos seus governos, juntando-me à campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra Israel, até que este satisfaça três direitos humanos básicos exigidos na lei internacional.
1. Pondo fim à ocupação e à colonização de todas as terras árabes [ocupadas desde 1967] e desmantelando o muro;
2. Reconhecendo os direitos fundamentais dos cidadãos árabo-palestinos de Israel em plena igualdade; e
3. Respeitando, protegendo e promovendo os direitos dos refugiados palestinos de regressar às suas casas e propriedades como estipulado na resolução 194 das NU.
A minha convicção nasceu da ideia de que todas as pessoas merecem direitos humanos básicos. A minha posição não é antisemita. Isto não é um ataque ao povo de Israel. Isto é, no entanto, um apelo aos meus colegas da indústria da música e também a artistas de outras áreas para que se juntem ao boicote cultural.
Os artistas tiveram razão de recusar-se a actuar na estação de Sun City na África do Sul até que o apartheid caísse e que brancos e negros gozassem dos mesmos direitos. E nós temos razão de recusar actuar em Israel até que venha o dia – e esse dia virá seguramente – em que o muro da ocupação caia e os palestinos vivam ao lado dos israelitas em paz, liberdade, justiça e dignidade, que todos eles merecem.

terça-feira, 8 de março de 2011

Consumo, um valor essencial (?)












Obsolescência Programada: comprar, tirar, comprar...






Documentário produzido pela TVE espanhola que trata da obsolescência programada, uma estratégia que visa fazer com que a vida de um produto tenha sua durabilidade limitada para que sempre o consumidor se veja obrigado a comprar novamente.




O filme abre com um funcionário da emissora descobrindo que sua impressora EPSON havia deixado de funcionar sem motivo aparente e que o custo de consertá-la sairia mais caro do que uma nova.



A Obsolescência Programada começou primeiramente com as lâmpadas, que antes duravam décadas trabalhando ininterruptamente (como a lampada que está acesa há mais de cem anos num posto dos bombeiros dos EUA) mas, depois de uma reunião com o cartel dos fabricantes, passaram a fazê-las para durar apenas 1.000 horas.



Essa prática tem gerado montanhas de resíduos, transformando algumas cidades de países de terceiro mundo em verdadeiros depósitos, sem falar na matéria prima, energia e tempo humnano 
 desperdiçados.




Vídeos relacionados ao tema: 


- A Alma do negócio


- Ilha das Flores


- Criança, a alma do negócio


- História das coisas


Para assistir aos vídeos citados acima, clique aqui.

domingo, 6 de março de 2011

No norte da África soam os tambores de mais uma guerra imperialista


A Organização do Tratado do Atlântico Norte - OTAN confabula com os EUA 
uma invasão ao país de melhor IDH do continente africano

Diferentemente do que acontece no Egito e na Tunísia, a Líbia ocupa o primeiro lugar no Índice de Desenvolvimento Humano na África e tem a maior expectativa de vida no continente. A educação e a saúde recebem atenção especial do Estado. O nível cultural da população é certamente maior. Seus problemas são de outra natureza. 


Por Fidel Castro

A população não carece de alimentos e de serviços sociais essenciais. O país precisava de mão de obra estrangeira abundante para realizar planos ambiciosos de produção e desenvolvimento social. Dessa forma, proporcionava emprego a centenas de milhares de trabalhadores egípcios, tunisianos, chineses e outras nacionalidades. 
A Líbia dispunha de enormes receitas e reservas em divisas depositadas nos bancos dos países ricos, com as quais adquiriu bens de consumo e até mesmo armas sofisticadas, fornecidas precisamente pelos mesmos países que agora querem invadi-la em nome dos direitos humanos.
A maciça campanha de mentiras, desencadeada pela grande mídia, deu lugar a uma grande confusão na opinião pública mundial. Vai levar tempo até que se possa reconstituir o que realmente aconteceu na Líbia – e separar o real dos fatos falsos que têm sido relatados.
Emissoras sérias e prestigiadas, como a Telesur, foram obrigadas a enviar repórteres e cinegrafistas às atividades de um grupo e, por outro lado, relatar o que realmente acontecia.
As comunicações foram bloqueadas, os diplomatas honestos arriscaram suas vidas atravessando bairros e observando atividades, de dia ou de noite, para informar o que estava acontecendo. O império e seus principais aliados empregaram os mais sofisticados meios para divulgar informações distorcidas dos acontecimentos, entre as quais a de inferir as características da verdade.
Sem dúvida, os rostos dos jovens manifestantes em Bengazi, homens e mulheres com um véu ou sem véu, expressaram indignação real.
Pode-se ainda ver, em contrapartida, a influência exercida pelo componente tribal nesse país árabe, apesar da fé muçulmana compartilhada abertamente por 95% de sua população.
O imperialismo e a Otan – seriamente preocupados com a onda revolucionária que se iniciou no mundo árabe, onde se gera grande parte do petróleo que sustenta a economia de consumo dos países desenvolvidos e ricos – não podiam deixar de aproveitar o conflito interno na Líbia para promover a intervenção militar. As declarações feitas pela administração dos EUA desde o primeiro momento foram categóricas a este respeito.
A situação não poderia ser mais propícia. Nas eleições de novembro, a direita republicana desferiu um golpe contundente ao presidente Obama, um especialista em retórica.
O grupo fascista "missão cumprida", agora apoiado ideologicamente pelos extremistas do Tea Party, reduziu o alcance do atual presidente a um papel meramente decorativo, que põe sob risco seu programa de saúde e a incerta recuperação da economia, a causa do déficit orçamental e o crescimento incontrolável da dívida pública, que já batem todos os recordes históricos.
Apesar da avalancha de mentiras e da confusão criada, os Estados Unidos não conseguiram impor à China e à Federação Russa a aprovação, no Conselho de Segurança, de uma intervenção militar na Líbia, ainda que tenham conseguido obter, no Conselho de Direitos Humanos, a aprovação dos objetivos visados nesse momento. Em relação à intervenção militar, a secretária de Estado declarou em palavras que não admitem a menor dúvida: "Nenhuma opção está descartada".
O fato real é que a Líbia está agora envolvida em uma guerra civil, como havíamos previsto, e as Nações Unidas nada podem fazer para impedi-la, exceto pelo fato de que seu próprio secretário-geral lançou uma boa dose de lenha na fogueira.
Os atores talvez não imaginassem que o problema é que os próprios líderes da rebelião abordaram esse complicado tema declarando que rejeitam toda e qualquer intervenção militar estrangeira.
Várias agências de notícias informaram que Abdelhafiz Ghoga, porta-voz do Comitê da Revolução, declarou na segunda-feira (28) que "o restante da Líbia vai ser libertado pelo povo líbio".
"Contamos com o Exército para libertar Trípoli", assegurou Ghoga durante o anúncio da formação de um "Conselho Nacional" para representar os municípios do país que estão nas mãos da insurgência.
"O que nós queremos é informação de inteligência, mas que, em caso algum, afete nossa soberania aérea, terrestre ou marítima", acrescentou ele, durante um encontro com jornalistas nesta cidade localizada mil quilômetros a leste de Tripoli.
"A intransigência dos líderes da oposição sobre a soberania nacional reflete a opinião expressa espontaneamente por muitos líbios à imprensa internacional em Bengazi", informa um despacho da AFP na segunda-feira passada.
No mesmo dia, uma professora de Ciência Política da Universidade de Bengazi, Abeir Imneina, disse: "Há um sentimento nacional muito forte na Líbia. Além disso, o exemplo do Iraque amedronta o conjunto do mundo árabe", ressalta, referindo-se à invasão norte-americana de 2003 que deveria levar a democracia a esse país e, em seguida, por contágio, a toda a região – uma hipótese completamente desmentida pelos fatos.
Prossegue a professora: "Sabemos o que aconteceu no Iraque, que se encontra em plena instabilidade, e realmente não queremos seguir o mesmo caminho. Não queremos que os americanos venham para acabar se arrepender por Kadafi", continuou essa especialista.
“Mas", segundo Abeir Imneina, ‘há também a sensação de que é a nossa revolução – e cabe a nós fazê-la’”.
Poucas horas depois da publicação desse despacho, dois importantes órgãos de imprensa dos Estados Unidos, The New York Times e TheWashington Post, apressaram-se em oferecer novas versões sobre o assunto, conforme informou a agência DPA no dia seguinte, 1º de março: "A oposição líbia pode solicitar que o Ocidente bombardeie a partir das posições estratégicas das forças leais ao presidente Muamar al-Kadafi, informa hoje a mídia estadunidense".
"O assunto está sendo discutido dentro do Conselho Revolucionário líbio, detalham o New York Times e o Washington Post em suas versões online."
"O New York Times observa que essas discussões podem manifestar a crescente frustração dos líderes rebeldes ante a possibilidade de que Kadafi recupere o poder”.

"No caso das operações aéreas realizadas no âmbito das Nações Unidas, estas não implicaram intervenção internacional, explicou o porta-voz do Conselho, citado pelo The New York Times".
"O conselho é formado por advogados, acadêmicos, juízes e membros proeminentes da sociedade líbia".
Afirma o despacho:
"O Washington Post cita os rebeldes reconhecendo que, sem o apoio do Ocidente, os combates às forças leais a Kadafi poderiam durar muito mais tempo e custar uma grande quantidade de vidas humanas”.
Vale ressaltar que nessa relação não é mencionado um único trabalhador, agricultor, construtor, alguém associado à produção material, um jovem estudante ou um dos combatentes que participam das manifestações. Por que o esforço para retratar os rebeldes como membros proeminentes da sociedade, reivindicando o bombardeio dos Estados Unidos e da Otan para matar os líbios?
Um dia saberemos a verdade, através de pessoas como a professora de Ciência Política da Universidade de Bengazi, que com tanta eloquência narra o calvário que matou, destruiu casas, provocou desemprego e forçou milhões de pessoas a migrar no Iraque.
Nesta quarta-feira, 2 de março, a agência EFE apresenta um porta-voz rebelde conhecido por fazer declarações que, na minha opinião, afirmam e ao mesmo tempo contradizem as notícias de segunda-feira: "Bengazi (Líbia), 02 de março. A liderança rebelde líbia pediu hoje ao Conselho de Segurança da ONU que lance um ataque aéreo ‘contra os mercenários’ do regime de Muamar Kadafi”.
"‘Nosso exército, por seu papel defensivo, não pode lançar ataques contra os mercenários’, afirmou o porta-voz rebelde Abdelhafiz Ghoga em uma conferência de imprensa em Bengazi”.
"‘Um ataque aéreo estratégico é diferente de uma intervenção estrangeira, a qual rechaçamos’, sublinhou o porta-voz das forças da oposição, que sempre se posicionaram contra uma intervenção militar estrangeira no conflito líbio”.
A qual das muitas guerras imperialistas esta se parece? À da Espanha em 1936, à de Mussolini contra a Etiópia em 1935, à de George W. Bush contra o Iraque no ano de 2003 ou a qualquer uma das dezenas de guerras promovidas pelos Estados Unidos contra os povos da América, desde a invasão do México em 1846 até a das Ilhas Malvinas em 1982?
Isso sem excluir, é claro, a invasão mercenária da Baía dos Porcos, a guerra suja e o bloqueio da nossa pátria (Cuba) ao longo de 50 anos – marca que será completada em 16 de abril.
Em todas essas guerras, como também a do Vietnã, que custou milhões de vidas, prevaleceram as justificações e as medidas mais cínicas.
Para aqueles que têm alguma dúvida sobre a inevitável intervenção militar que terá lugar na Líbia, a agência de notícias Associated Press, a qual considero bem informada, publicou hoje: "Os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) desenvolvem um plano de contingência baseado no modelo das zonas de exclusão aérea estabelecidas sobre os Balcãs na década de 1990, em caso de a comunidade internacional decidir impor um embargo aéreo contra a Líbia, disseram diplomatas”.
Mais tarde, conclui-se: "Os funcionários – que não podiam dar os seus nomes por causa da delicadeza do assunto – indicaram que as opções têm como ponto de partida a zona de exclusão aérea imposta pela aliança militar ocidental na Bósnia em 1993, que contou com a autorização do Conselho de Segurança, e os bombardeamentos da Otan no Kosovo em 1999, QUE NÃO FUNCIONARAM. "

Fonte: www.granma.cu, disponível em 06 de março de 2011, às 18:01h.