terça-feira, 29 de setembro de 2015

Havia corrupção na Ditadura?

Quando ouço alguém dizer:"Na época da Ditadura Militar não se via corrupção" me lembro dessa foto. Wladimir Herzog, jornalista torturado até a morte por "questionar" a Ditadura.

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Somos racistas!



Reconhecer a doença é o primeiro passo de qualquer tratamento: Sim, somos RACISTAS!
Sobre as cotas...
Aí você, ontem ainda, "liberta" o ser humano escravizado na condição de analfabeto, sem terra, sem herança, sem profissão, sem teto, sem dignidade e diz:
- Seja livre! Somos todos iguais!
Cerca de 127 anos depois, nada mudou, apenas se multiplicaram os abandonados e excluídos da Lei Áurea e alguém levanta a voz:
- Vamos fazer algo por esse povo, vamos dar um tratamento especial para quem precisa de tratamento especial e corrigir a desigualdade, vamos "recompensar" o que for possível!
Aí alguém se levanta e diz:
- Não! Não podemos tratar ninguém diferente! Todos somos iguais e a história não influencia em nada o presente!
E assim caminha nosso racismo, nossa segregação racial mantida pelo "mito da democracia racial". Se não podemos tratar diferente os diferentes, como mudar esse quadro?
Algumas pessoas que terão paciência de ler esse texto todo, na altura dessas palavras já deverão estar se remoendo, tomadas pela ideologia "embranquecedora", já devem estar eufóricas para gritar:
- Cotas não! Cotas geram racismo!
Para essas pessoas só faço uma pergunta: entre ter 1% de negros na universidade (sem cotas) e ter 20% de negros (com cotas) onde está a maior exclusão?
Se você for preso ilegalmente e cumprir 10 anos de prisão e depois de solto entrar na justiça e provar a sua inocência, irá você processar o Estado e pedir uma "indenização"? Se fará isso, qual o problema de indenizarmos um povo que foi desumanizado por quase 4/5 da nossa história?
É normal não termos juízes, médicos, grandes empresários e grandes fazendeiros negros? Isso não incomoda? Isso não tem nada a ver com a escravidão e o abandono desse povo que foi transferido da senzala para a favela?
Isso não se muda? Não deve ser mudado? Como? Com discurso de somos todos iguais?
E se fizermos um mantra nacional, onde milhões de pessoas irão repetir:
Somos todos iguais, Fora Preconceito!
Somos todos iguais, Fora Preconceito!
Somos todos iguais, Fora Preconceito!
Somos todos iguais, Fora Preconceito! (centenas de vezes)
Resolveria?
Racismo não se resume a tratamento nas relações interpessoais. Não é uma questão meramente de educação e respeito, mas de desigualdade e desigualdade não se combate com igualdade de tratamento.
Realmente, quando dizem que o Brasil tem um dos piores sistemas de ensino no mundo, acabo por concordar ao ver tanta gente tratando quase 4 séculos de ESCRAVIDÃO como se fosse um feriado de 3 dias.
A escravidão acabou praticamente "ontem" e essa gente foi jogada como animais nas ruas e sempre tiveram do Estado somente a violência dos coturnos, dos cassetetes e assassinatos nas quebradas silenciados pela imprensa burguesa, também branca.
Qualquer gringo que venha ao Brasil perceberá o nosso Apartheid. Qualquer estudo racial do Brasil comprova a desigualdade racial e a institucionalização da desigualdade racial. Qualquer pessoa com o mínimo de informação sabe que a desigualdade racial se combate com políticas afirmativas.
Desiguais devem ser tratados, sim de forma desigual!
Que o preconceito e a ignorância possam ser refletidos e aprofundemos essa questão que envergonha nosso país, nossa gente, nossa história, mas que não tenhamos medo de avançar. Não vamos retroceder um passo.
As cotas são um remédio amargo e como remédio, não tenho lá minhas preferências. As cotas não agem na raiz do problema, que devem ser trabalhado paralelamente, mas são, sem sombra de dúvidas, o remédio mais eficaz, no momento para não perdermos mais uma geração.
Graças às cotas estamos começando a ver, um século após o fim da escravidão, negros ocupando espaços de poder.
___x ___
OBS: "Sim, somos racistas" é uma generalização aplicada ao povo brasileiro e não desconsidera os lutadores e militantes da causa da igualdade racial.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Diálogo entre o cérebro e o estômago

Diálogo entre o cérebro e o estômago
- Mas professor, e se um adolescente de 16 anos fizer mal para o seu filho, como você agiria?
- Bem, se eu o pegasse em flagrante, como ser humano, talvez eu tivesse uma reação inesperada, inclusive poderia agir cegamente e até matá-lo.
- Então, porque você é contra a redução da maioridade penal?
- Porque não planejamos e criamos regras de convívio social com o estômago, mas com a razão. Um adolescente que entre para a cadeia e fique lá 10 anos, ao sair, com 26, estará melhor ou pior?
- Mas você acha certo deixar solto um menor assassino?
- Nunca te disse isso. Ele deve ser preso, mas deve ser respeitada sua condição peculiar de desenvolvimento, ou seja, se está se desenvolvendo, sua punição pode e deve ser educativa. É o mínimo que se pode esperar de um educador... acreditar no ser humano.
- Eu também acho, mas ele deveria ser preso e ficar separado.
- Preso e separado onde?
- Na cadeia.
- Separado só se for do lado de fora, pois dentro não cabe ninguém. E outra, a Lei 8069/90 já prevê a prisão separada dos adolescentes, mas numa prisão em que haja estudo, trabalho, profissionalização e condições para crescer como cidadão.
- Mas não é cumprido!
- Olha o SUS, no papel é maravilhoso, mas não é porque funciona mal que vou pedir o fim do SUS, prefiro lutar pela sua melhoria.
- O adolescente é preso hoje e é solto hoje mesmo. No Brasil, adolescente pode roubar, matar, mas não pode ser preso.
- Já disse, preso pode sim. Se não é preso é porque alguém não está fazendo sua parte e nesse caso é o próprio Estado que quer colocá-lo na cadeia que está falhando ao não criar centros de internação.
- Ficam impunes!
- Não é isso que determina a lei. Podem ser obrigados a reparar o dano, prestarem serviços comunitários e até serem presos. A questão é: a prisão atual do adolescente deve, obrigatoriamente, por força de lei, obrigá-lo a estudar, trabalhar e aprender uma profissão. Na cadeia, aprenderá somente o crime e será aliciado, abusado e explorado pelo crime. Colocar um adolescente na cadeia é incentivar o crime, aumentar sua periculosidade e depois esperar, hipocritamente, que ele saia da cadeia melhor para o convívio social.
- Se ele souber que vai ser preso, vai pensar duas vezes.
- Pode pensar até 50 vezes, o problema não é esse. Vai para o crime, pois o crime lhe oferece oportunidades para saciar os desejos que nossa sociedade coloca nas cabeças dos jovens diariamente: ter, ter, ter.... Mas não vai mudar nada, pois se a ameaça surtisse efeito, os maiores de idade não seriam presos, pois todos adultos que comentem crimes sabem que serão presos e nem por isso deixam de cometer crimes.
- Está assustador, o crime só tem aumentado entre os jovens!
- Crimes pequenos como furto, roubo e a maioria são para conseguir dinheiro para usarem drogas. Nossos jovens estão abandonados e entregues para o tráfico.
- Falo de assassinatos, estupros...
- Assassinatos e estupros praticados por adolescentes entre 16 e 18 anos representam menos de 1% do total desses crimes. Não é porque o Datena mostra um caso todo dia e fica repetindo um mês que vamos entender errado.
- Então devemos deixá-los soltos?
- Aff... Vamos lá, releia nossa conversa. Não ficam soltos, são encaminhados para Centros de Internação, com grades, cerca elétrica, ficam proibidos de saírem, ficam presos. Mas é uma prisão que respeita o adolescente e lhe oferece oportunidades para melhorar através do estudo e do trabalho. A reincidência (retorno ao crime) entre adolescentes beira 30% quando são encaminhados para os Centros de Internação, já entre os adultos presidiários, chega a 70% o regresso ao sistema prisional. Não é racional adotar um sistema falido.
- Ah, professor, não adianta, o senhor não aceita a opinião dos outros.
- Aceito tanto que não lhe impedi de se expressar, o ouvi e respeito sua opinião, mas ela está errada, ou para aceitar tenho que concordar? Esqueceu-se que sou Cientista Social? Que sou especialista no assunto?
- Eu continuo sendo a favor.
- Por que?
- Porque..... tem que pagar.
- Vingança?
- É. Vingança, ele tem que sofrer.
- E depois? Quando ele voltar pra sociedade?
- Desisto professor. O senhor é muito intransigente.
- Se acha que defender uma tese e se negar a adotar outra porque possui argumentos racionais é ser intransigente, talvez eu seja. Mas uma coisa não nego: Ouvir o outro é algo muito positivo para formular nossa opinião. A questão é: A opinião de Ratinho e Datena merece tanto valor?
- Não penso como o Datena, tenho minha própria opinião.
- Sim, a do sendo comum.
- Não mudo de opinião.
- O problema do mundo é que muitos ignorantes estão cheios de certezas enquanto sábios vivem na dúvida. Fique na sua certeza e daqui 10 anos nos falamos. Você verá o resultado dessa política de vingança e "varreção do lixo pra debaixo do tapete".
- Abraço, professor, você é petista?
- Afff.... Vai dormir, moleque! rsrs

por Diney Lenon 


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quinta-feira, 14 de maio de 2015

Atividades a serem desenvolvidas no Blog

Roteiro para a construção do Blog desenvolvido nas aulas de Sociologia:

1. Editar perfil:

"Esse blog é produto das oficinas "Cultura e Tecnologia, ministrado pelo Prof. Diney Lenon, nas aulas de Sociologia, Colégio Municipal Dr. José Vargas de Souza. Tem por objetivo abordar o tema XXXXXXXXXXXX e é composto pelos integrantes FULANO, CICLANO, da 2ª série do Ensino Médio.

2. Adicionar as página:

- Cultura Material
- Cultura Imaterial
- Vídeos
- Entrevistas
- Curiosidades
- Outra Página
- Outra Página (Ex: Página sobre Cinema pode criar : Vencedores do Oscar)

3. Adicionar gadget (miniaplicativo): Lista de Blogs

Adicionar o blog: www.cienciassociaisnarede.blogspot.com

Adicionar mais 9 blogs que têm ligação com a cultura e o tema abordado pelo grupo.

4. Selecionar uma imagem no google. Salvar a imagem e adicionar o gadget IMAGEM, postando a imagem no blog.

5. Selecionar um texto, frase, poesia, etc no google e adicionar o mesmo através de gadget TEXTO.

6. Adicionar o gadget APRESENTAÇÃO DE SLIDES. Incluir uma palavra na busca referente ao tema do blog.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Juizo. O maior exige do menor




Juízo acompanha a trajetória de jovens com menos de 18 anos de idade diante da lei. Meninas e meninos pobres entre o instante da prisão e o do julgamento por roubo, tráfico, homicídio. Como a identificação dos jovens infratores é vedada por lei, no filme eles são representados por jovens não-infratores que vivem em condições sociais similares. Todos os demais personagens de Juízo - juízes, promotores, defensores, agentes do DEGASE, familiares - são pessoas reais filmadas durante as audiências na II Vara da Justiça do Rio de Janeiro e durante visitas ao Instituto Padre Severino, local de reclusão dos jovens infratores.


Juízo atravessa os mesmos corredores sem saída e as mesmas pilhas de processos vistas no filme anterior de Maria Augusta Ramos, o premiado Justiça. Conduz o espectador ao instante do julgamento para desmontar os juízos fáceis sobre a questão dos menores infratores.

Quem sabe o que fazer? As cenas finais de Juízo revelam as consequências de uma sociedade que recomenda "juízo" a seus filhos, mas não o pratica.

sábado, 4 de abril de 2015

Era uma vez outra Maria


Brasil. Conta a história da menina Maria, que percebe que meninas são criadas de maneira diferente dos meninos, e descobre que essa criação influencia seus desejos, comportamentos e atitudes. De lembranças da infância a sonhos para o futuro, Maria questiona o seu papel no mundo.

Minha vida de João



Brasil. 2001. 23’. Produção: ECOS, Instituto PAPAI, Instituto Promundo. Conta a história de um rapaz, João, e os desafios que ele enfrenta durante seu processo de crescimento para tornar-se homem em nossa sociedade: o machismo, a violência familiar, a homofobia, as dúvidas em relaçãà sexualidade, a gravidez da namorada e a paternidade.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Tempos Modernos, tempos de Sociologia


A Revolução Industrial provocou profundas mudanças na sociedade



A sociologia constitui um projeto intelectual tenso e contraditório. Para alguns ela representa uma poderosa arma a serviço dos interesses dominantes, para outros ela é a expressão teórica dos movimentos revolucionários.
A sua posição é notavelmente contraditória. De um lado, foi proscrita de inúmeros centros de ensino. Foi fustigada, em passado recente, nas universidades brasileiras, congelada pelos governos militares argentino, chileno e outros do gênero. Em 1968, os coronéis gregos acusavam-na de ser disfarce do marxismo e teoria da revolução. Enquanto isso, os estudantes de Paris escreviam nos muros da Sorbone que “não teríamos mais problemas quando o último sociólogo fosse estrangulado com as tripas do último burocrata”.
Como compreender as avaliações tão diferentes dirigidas com relação a esta ciência? Para esclarecer esta questão, torna-se necessário conhecer, ainda que de forma bastante geral e com algumas omissões, um pouco de sua história. Isto me leva a situar a sociologia – este conjunto de conceitos, de técnicas e de métodos de investigação produzidos para explicar a vida social – no contexto histórico que possibilitou o seu surgimento, formação e desenvolvimento.
Este livro parte do princípio de que a sociologia é o resultado de uma tentativa de compreensão de situações sociais radicalmente novas, criadas pela então nascente sociedade capitalista. A trajetória desta ciência tem sido uma constante tentativa de dialogar com a civilização capitalista, em suas diferentes fases.
Na verdade, a sociologia, desde o seu início, sempre foi algo mais do que uma mera tentativa de reflexão sobre a sociedade moderna. Suas explicações sempre contiveram intenções práticas, um forte desejo de interferir no rumo desta civilização. Se o pensamento científico sempre guarda uma correspondência com a vida social, na sociologia esta influência é particularmente marcante. Os interesses econômicos e políticos dos grupos e das classes sociais, que na sociedade capitalista apresentam-se de forma divergente, influenciam profundamente a elaboração do pensamento sociológico.
Procuro apresentar, em termos de debate, a dimensão política da sociologia, a natureza e as conseqüências de sem envolvimento nos embates entre os grupos e as classes sociais e refletir em que medida os conceitos e as teorias produzidos pelos sociólogos contribuem para manter ou alterar as relações de poder existentes na sociedade.


O SURGIMENTO

Podemos entender a sociologia como uma das manifestações do pensamento moderno. A evolução do pensamento científico, que vinha se constituindo desde Copérnico, passa a cobrir, com a sociologia, uma nova área do conhecimento ainda não incorporada ao saber científico, ou seja, o mundo social. Surge posteriormente à constituição das ciências naturais e de diversas ciências sociais.
A sua formação constitui um acontecimento complexo para o qual concorrem uma constelação de circunstâncias, históricas e intelectuais, e determinadas intenções práticas. O seu surgimento ocorre num contexto histórico específico, que coincide com os derradeiros momentos da sociedade feudal e da consolidação da civilização capitalista. A sua criação não é obra de um único filósofo ou cientista, mas representa o resultado da elaboração de um conjunto de pensadores que se empenharam em compreender as novas situações de existência que estavam em curso.
O século XVIII constitui um marco importante para a história do pensamento ocidental e para o surgimento da sociologia. As transformações econômicas, políticas e culturais que se aceleram a partir dessa época colocarão problemas inéditos para os homens que experimentavam as mudanças que ocorriam no ocidente europeu. A dupla revolução que este século testemunha – a industrial e a francesa – constituía os dois lados de um mesmo processo, qual seja, a instalação definitiva da sociedade capitalista. A palavra sociologia apareceria somente um século depois, por volta de 1830, mas são os acontecimentos desencadeados pela dupla revolução que a precipitam a tornam possível.
Não constitui objetivo desta parte do trabalho proceder a uma análise destas duas revoluções, mas apenas estabelecer algumas relações que elas possuem com a formação da sociologia. A revolução industrial significou algo mais do que a introdução da máquina a vapor e dos sucessivos aperfeiçoamentos dos métodos produtivos. Ela representou o triunfo da indústria capitalista, capitaneada pelo empresário capitalista que foi pouco a pouco concentrando as máquinas, as terras e as ferramentas sob seu controle, convertendo grandes massas humanas em simples trabalhadores desprovidos.
Cada avanço com relação à consolidação da sociedade capitalista representava a desintegração. O solapamento de costumes e instituições até então existentes e a introdução de novas formas de organizar a vida social. A utilização da máquina na produção não apenas destruiu o artesão independente, que possuía um pequeno pedaço de terra, cultivado nos seus momentos livres. Este foi também submetido a uma severa disciplina, a novas formas de conduta e de relações de trabalho, completamente diferentes das vividas anteriormente por ele.
Num período de oitenta anos, ou seja, entre 1780 e 1860, a Inglaterra havia mudado de forma marcante a sua fisionomia. País com pequenas cidades, com uma população rural dispersa, passou a comportar enormes cidades, nas quais se concentravam suas nascentes indústrias, que espalhavam produtos para o mundo inteiro. Tais modificações não poderiam deixar de produzir novas realidades para os homens dessa época. A formação de uma sociedade que se industrializava e urbanizava em ritmo crescente implicava a reordenação da sociedade rural, a destruição da servidão, o desmantelamento da família patriarcal etc. A transformação da atividade artesanal em manufatureira e, por último, em atividade fabril, desencadeou uma maciça emigração do campo para a cidade, assim como engajou mulheres e crianças em jornadas de trabalho de pelo menos doze horas, sem férias e feriados, ganhando um salário de subsistência. Em alguns setores da indústria inglesa, mais da metade dos trabalhadores era constituída por mulheres e crianças, que ganhavam salários inferiores dos homens.
A desaparição dos pequenos proprietários rurais, dos artesãos independentes, a imposição de prolongadas horas de trabalho etc, tiveram um efeito traumático sobre milhões de seres humanos ao modificar radicalmente suas formas habituais de vida. Estas transformações, que possuíam um sabor de cataclisma, faziam-se mais visíveis nas cidades industriais, local para onde convergiam todas estas modificações e explodiam suas conseqüências. Estas cidades passavam por um vertiginoso crescimento demográfico, sem possuir, no entanto, uma estrutura de moradias, de serviços sanitários, de saúde, capaz de acolher a população que se deslocava do campo. Manchester, que constitui um ponto de referência indicativo desses tempos, por volta do início do século XIX era habitada por setenta mil habitantes; cinqüenta anos depois, possuía trezentas mil pessoas. As conseqüências da rápida industrialização e urbanização levadas a cabo pelo sistema capitalista foram tão visíveis quanto trágicas: aumento assustador da prostituição, do suicídio, do alcoolismo, do infanticídio, da criminalidade, da violência, de surtos de epidemia de tifo e cólera que dizimaram parte da população etc. É evidente que a situação de miséria também atingia o campo, principalmente os trabalhadores assalariados, mas o seu epicentro ficava, sem dúvida, nas cidades industriais.
Um dos fatos de maior importância relacionados coma revolução industrial é sem dúvida o aparecimento do proletariado e o papel histórico que ele desempenharia na sociedade capitalista. Os efeitos catastróficos que esta revolução acarretava para a classe trabalhadora levaram-na a negar suas condições de vida. As manifestações de revolta dos trabalhadores atravessaram diversas fases, como a destruição das máquinas, atos de sabotagem e explosão de algumas oficinas, roubos e crimes, evoluindo para a criação de associações livres, formação de sindicatos, etc. A conseqüência desta crescente organização foi a de que os “pobres” deixaram de se conformar com os “ricos”; mas uma classe específica, e classe operária, com consciência de seus interesses, começava a organizar-se para enfrentar os proprietários dos instrumentos de trabalho. Nesta trajetória, iam produzindo seus jornais, sua própria literatura, procedendo a uma crítica da sociedade capitalista e inclinando-se para o socialismo como alternativa de mudança.


QUAL A IMPORTÂNCIA DESSES ACONTECIMENTOS PARA A SOCIOLOGIA?

O que merece ser salientado é que a profundidade das transformações em curso colocava a sociedade num plano de análise, ou seja, esta passava a se constituir em “problema”, em “objeto” que deveria ser investigado. Os pensadores ingleses que testemunhavam estas transformações e com elas se preocupavam não eram, no entanto, homens de ciência ou sociólogos que viviam desta profissão. Eram antes de tudo homens voltados para a ação, que desejavam introduzir determinadas modificações na sociedade. Participavam ativamente dos debates ideológicos em que se envolviam as correntes liberais, conservadoras e socialistas. Eles não desejavam produzir um mero conhecimento sobre as novas condições de vida geradas pela revolução industrial, mas procuravam extrair dele orientações para a ação, tanto para manter, como para reformar ou modificar radicalmente a sociedade de seu tempo. Tal fato significa que os precursores da sociologia foram recrutados entre militantes políticos, entre indivíduos que participavam e se envolviam profundamente com os problemas de suas sociedades.
Pensadores como Owen (1771-1858), William Thompson (1775-1833), Jeremy Bentham (1748-1832), só para citar alguns daquele momento histórico, podiam discordar entre si ao julgarem as novas condições de vida provocadas pela revolução industrial e as modificações que deveriam ser realizadas na nascente sociedade industrial, mas todos eles concordavam que ela produzira fenômenos inteiramente novos que mereciam ser analisados. O que eles refletiram foi de fundamental importância para a formação e constituição de um saber sobre a sociedade.
A sociologia constitui em certa medida uma resposta intelectual às novas situações colocadas pela revolução industrial. Boa parte de seus temas de análise e de reflexão foi retirada das novas situações, como por exemplo, a situação da classe trabalhadora, o surgimento da cidade industrial, as transformações tecnológicas, a organização do trabalho na fábrica etc. É a formação de uma estrutura social muito específica – a sociedade capitalista – que impulsiona uma reflexão sobre a sociedade, sobre suas transformações, suas crises, seus antagonismos de classe. Não é por acaso que a sociologia, enquanto instrumento de análise, inexistia nas relativamente estáveis sociedades pré-capitalistas, uma vez que o ritmo e o nível das mudanças que aí se verificavam não chegavam a colocar a sociedade como “um problema” a ser investigado.
O surgimento da sociologia, como se pode perceber, prende-se em parte aos abalos provocados pela revolução industrial, pelas novas condições de existência por ela criadas. Mas uma outra circunstância concorreria também para a sua formação. Trata-se das modificações que vinham ocorrendo nas formas de pensamento. As transformações econômicas, que se achavam em curso no ocidente europeu desde o século XVI, não poderiam deixar de provocar modificações na forma de conhecer a natureza e a cultura.
A partir daquele momento, o pensamento paulatinamente vai renunciando a uma visão sobrenatural para explicar os fatos e substituindo-a por uma indagação racional. A aplicação da observação e da experimentação, ou seja, do método científico para a explicação da natureza, conhecia uma nova fase de grandes progressos. Num espaço de cento e cinqüenta anos, ou seja, de Copérnico a Newton, a ciência passou por um notável progresso, mudando até mesmo a localização do planeta Terra no cosmo.
O emprego sistemático da observação e da experimentação como fonte para a exploração dos fenômenos da natureza estava possibilitando uma grande acumulação de fatos. O estabelecimento de relações entre os fatos ia possibilitando aos homens dessa época um conhecimento da natureza que lhes abria possibilidade de a controlar e dominar.
O pensamento filosófico do século XVII contribuiu para popularizar os avanços do pensamento científico. Para Francis Bacon (1561-1626), por exemplo, a teologia deixaria de ter a forma norteadora do pensamento. A autoridade, que exatamente constituía um dos alicerces da teologia, deveria, em sua opinião, ceder lugar a uma dúvida metódica, a fim de possibilitar um conhecimento objetivo da realidade. Para ele, o novo método de conhecimento, baseado na observação e na experimentação, ampliaria infinitamente o poder do homem e deveria ser estendido e aplicado ao estudo da sociedade. Partindo destas idéias, chegou a propor um programa para acumular os dados disponíveis e com eles realizar experimentos a fim de descobrir e formular leis gerais sobre a sociedade.
O emprego sistemático da razão, do livre exame da realidade – traço que caracterizava os pensadores do século XVII, os chamados racionalistas –, representou um grande avanço para libertar o conhecimento do controle teológico, da tradição, da “revelação” e, consequentemente, para a formulação de uma nova atitude intelectual diante dos fenômenos da natureza e da cultura.
Diga-se de passagem que o progressivo abandono da autoridade, do dogmatismo e de uma concepção providencialista, enquanto atitudes intelectuais para analisar a realidade, não constituía um acontecimento circunscrito apenas ao campo científico ou filosófico. A literatura do século XVII, por exemplo, constituía uma outra área que ia se afastando do pensamento oficial, na medida em que se rebelava contra a criação literária legitimada pelo poder. A obra de vários literatos dessa época investia contra as instituições oficiais, procurando desmascarar os fundamentos do poder político, contribuindo assim para a renovação dos costumes e hábitos mentais dos homens da época.
Se no século XVIII os dados estatísticos voavam, indicando uma produtividade antes desconhecida, o pensamento social deste período também realizava seus vôos rumo a novas descobertas. A pressuposição de que o processo histórico possui uma lógica passível de ser apreendida constituiu um acontecimento que abria novas pistas para a investigação racional da sociedade.
Data também dessa época a disposição de tratar a sociedade a partir do estudo de seus grupos e não dos indivíduos isolados. Essa orientação estava, por exemplo, nos trabalhos de Ferguson, que acrescentava que para o estudo da sociedade era necessário evitar conjecturas e especulações. A obra deste historiador escocês revela a influência de algumas idéias de Bacon, como a de que é a indução, e não a dedução, que nos revela a natureza do mundo, e a importância da observação enquanto instrumento para a obtenção do conhecimento.
No entanto, é entre os pensadores franceses do século XVIII que encontramos um grupo de filósofos que procurava transformar não apenas as velhas formas de conhecimento, baseadas na tradição e na autoridade, mas a própria sociedade. Os iluministas, enquanto ideólogos da burguesia, que nesta época posicionavam-se de forma revolucionária, atacaram com veemência os fundamentos da sociedade feudal, os privilégios de sua classe dominantes e as restrições que esta impunha aos interesses econômicos e políticos burgueses.
É a intensidade do conflito entre as classes dominantes da sociedade feudal e a burguesia revolucionária que leva os filósofos, seus representantes intelectuais, a atacarem de forma impiedosa a sociedade feudal e a sua estrutura de conhecimento, e a negarem abertamente a sociedade existente.
Para proceder a uma indagação crítica da sociedade da época, os iluministas partiram dos seus antecessores do século XVII, como Descartes, Bacon, Hobbes e outros, reelaborando, porém, algumas de suas idéias e procedimentos. Ao invés de utilizar a dedução, como a maioria dos pensadores do século XVII, os iluministas insistiam numa explicação da realidade baseada no modelo das ciências da natureza. Nesse sentido, eram influenciados mais por Newton, com seu modelo de conhecimento baseado na observação, na experimentação e na acumulação de dados, do que por Descartes com seu método da investigação baseado na dedução.
Combinando o uso da razão e da observação, os iluministas analisaram quase todos os aspectos da sociedade. Os trabalhos de Montesquieu (1689-1755), por exemplo, estabelecem uma série de observações sobre a população, o comércio, a religião, a moral, a família etc. O objetivo dos iluministas, ao estudar as instituições de sua época, era demonstrar que elas eram irracionais e injustas, que atentavam contra a natureza dos indivíduos e, nesse sentido, impediam a liberdade do homem. Concebiam o indivíduo como dotado de razão, possuído uma perfeição inata e destinado à liberdade do indivíduo e à sua plena realização, elas, segundo eles, deveriam ser eliminadas. Dessa forma reivindicavam a liberação do indivíduo de todos os laços sociais tradicionais, tal como as corporações, a autoridade feudal, etc.
A burguesia, ao tomar o poder em 1789, investiu decididamente contra os fundamentos da sociedade feudal, procurando construir um Estado que assegurasse sua autonomia em face da Igreja e que protegesse e incentivasse a empresa capitalista. Para a destruição do “ancien regime”, foram mobilizadas as massas, especialmente os trabalhadores pobres das cidades. Alguns meses mais tarde, elas foram “presenteadas” pela nova classe dominante com a interdição dos seus sindicatos.
A investida da burguesia rumo ao poder, sucedeu-se uma liquidação sistemática do velho regime. A revolução ainda não completara um ano de existência, mas fora suficientemente intempestiva para liquidar a velha estrutura feudal e o Estado monárquico.
O fato é que pensadores franceses da época, como Saint-Simon, Comte, Lê Play e alguns outros, concentrarão suas reflexões sobre a natureza e as conseqüências da revolução. Em seus trabalhos, utilizarão expressões como “anarquia”, “pertubação”, “crise”, “desordem”, para julgar a nova realidade provocada pela revolução.


BIBLIOGRAFIA

MARTINS, C. B. O que é Sociologia. 10ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1985.

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terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Curso de Formação Política O Socialismo do Século XXI (Inscrição)


La unidad de la Grand Pátria es la fortaleza de nuestro pueblo

INTRODUÇÃO

O Curso de Formação Política "O Socialismo do Século XXI" tem por objetivo proporcionar aos cursistas uma aproximação com os princípios que orientam o Socialismo, a teoria marxista e sua leitura e aplicação no contexto da América Latina desse novo século.

Inspirado pela Revolução Bolivariana, pela Teologia da Libertação e pela história de luta da classe trabalhadora, o Socialismo do Século XXI, tática teorizada pelo Comandante da  Revolução Militar Venezuelana, Hugo Chávez, sem sectarismo e divisionismo procura construir a UNIDADE dos povos da América Latina  em torno dos princípios comunistas, do socialismo e do cristianismo.

Serão 8 encontros aos sábados pela manhã, em Poços de Caldas, no Centro Cultural Afrobrasileiro Chico Rei. Ministradas por Cientistas Sociais, Historiadores e militantes de movimentos sociais chavistas, as oficinas contarão com material de leitura, documentários e dinâmicas que desenvolvam através da mística a consciência de classes, o conhecimento e o empoderamento dos participantes.


INSCRIÇÕES

As inscrições deverão ser feitas antecipadamente, nesse site, através de um comentário nessa postagem, onde deverá constar o nome completo, idade, ligação a movimento, escola, universidade, sindicato ou outra entidade.

CUSTO

Será cobrado dos inscritos uma contribuição para a manutenção do espaço durante o curso.
Valor:

Trabalhador (a) empregado: R$ 10,00
Estudantes e desempregados: Sem custo




PROGRAMAÇÃO

Módulo I

1.      Introdução ao Marxismo

1.1.            Materialismo Dialético e a Luta de Classes
1.2.            Introdução a uma leitua d’O Capital
1.3.            Política e Revolução

Data: 24 e 31 de janeiro


Módulo II

2.      O Socialismo

2.1.            A tática da luta de classes
2.2.            História da luta de classes
2.3.            Experiências Socialistas (URSS, China, Cuba, Venezuela)

Data: 7 e 14 de fevereiro


Módulo III

3.      História da luta de classes no Brasil

3.1 As lutas no período colonial
3.2 As lutas do Brasil imperial
3.3 O Brasil do século XX na “Era dos Extremos”
3.4 O Brasil no início do século XXI

Data: 21 de fevereiro


Módulo IV

4.      O Socialismo do Século XXI

4.1 O neoliberalismo dos anos 1980-90 na América Latina
4.2 Revoluções na América Latina
4.3 Ditaduras na América Latina
4.2 A luta anti-globalização (Seatle, Fórum Social Mundial...)
4.3 Caracazo, 1989 e o surgimento do Movimento Bolivariano
4.4 Hugo Rafael Chávez Frías
4.5. Marx é a revolução e Cristo a fé de um povo explorado
4.6 Integração Regional e o socialismo do século XXI

Data: 28 de fevereiro e 7 de março

Módulo V

5.      A luta de classes no século XXI e a luta das minorias

5.1 A mulher na sociedade de classes
5.2 A questão racial, indígena e popular
5.3 Direitos Humanos, direito LGBT, Ecologia e Socialismo

Data: 14 de março



BIBLIOGRAFIA


Referência bibliográfica:

BAÉZ, Luis; ELIZALDE, Rosa Miriam. Chávez Nuestro. La Habana: Casa Editora Abril, 2007.

BEER, Max. História do Socialismo e das lutas sociais. São Paulo: Expressão Popular, 2006.

FERNANDES, Florestan. O negro no mundo dos brancos. 2. ed. São Paulo: Global, 2007.

GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. 18. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos. O breve século XX (1914-1991). 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

KONDER, Leandro. História das ideias socialistas no Brasil. São Paulo: Expressão Popular, 2003.

LENIN, W. I. As três fontes e as três partes constitutivas do marxismo. 3. ed. São Paulo: Global, 1980.

MARIÁTEGUI. José Carlos. Revolução Russa. História, política e literatura. São Paulo: Expressão Popular, 2012.

MARX, Karl. Manuscritos econômicos, filosóficos e outros textos. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

MARX, Karl; F. Engels. A ideologia Alemã. São Paulo: Martin Claret, 2004.

NAVARRO, José Cantón; LEÓN, Arnaldo Silva. História de Cuba, 1959-1999. Liberación nacional y socialismo. 3. ed. La Habana: Pueblo y Educación: 2011.

SAFFIOTI, Heleieth. A mulher na sociedade de classes. 3. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2013.



DOCUMENTÁRIOS

- A revolução não será televisionada (https://www.youtube.com/watch?v=MTui69j4XvQ) 
- Cuba, fatos e não palavras (https://www.youtube.com/watch?v=eiWXhanvyY0) 
- Bolívar (https://www.youtube.com/watch?v=y-mTsXMpsHY)
- Brazil, uma verdade inconveniente (https://www.youtube.com/watch?v=t821sT4AoUY)
- Guerra contra a Democracia (https://www.youtube.com/watch?v=dmYo8xrHI9M)
- Por uma outra globalização (https://www.youtube.com/watch?v=-UUB5DW_mnM) 

Professores: Diney Lenon, Tiago Mafra, Mateus Zani, Greice Keli e Hudson Vilas Boas



Cronograma:

10 de janeiro: Introdução ao Marxismo
17 de janeiro: Introdução ao Marxismo
24 de janeiro: O Socialism
31 de janeiro: O Socialismo
7 de fevereiro: História da luta de classes no Brasil
14 de fevereiro: O Socialismo do Século XXI
21 de fevereiro: O Socialismo do Século XXI
28 de fevereiro: A luta de classes no século XXI e a luta das minorias
* 8 sábados, das 08hs às 12hs, totalizando 32h/aula.